Há mais de 300 anos que as habilidosas mãos dos artesãos de Estremoz dão vida a uma das mais belas artes do nosso país. “A Produção de Figurado em Barro”, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”, faz parte da identidade cultural deste concelho desde o século XVIII, e da mundial desde 2017, ano em que foi classificada como Património Cultural Imaterial da Humanidade. José Daniel Sádio, Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, dá a conhecer este património único, cartaz de visita do território alentejano e símbolo das suas gentes.
Envolta por uma antiga muralha, que é dominada pela silhueta do seu castelo medieval do século XIII, Estremoz é uma das mais belas e imponentes cidades de todo o Alentejo. Palco de grandes acontecimentos históricos, o Município de Estremoz é detentor de uma riqueza única, espelhada nos inúmeros monumentos espalhados pela cidade, de onde se destaca o complexo sistema fortificado, dividido em dois núcleos, classificado como Monumento Nacional desde 1910. Quem de longe para ele olha, não imagina que este património encerra no seu interior uma riqueza igualmente relevante e bela: um conjunto monumental (religioso, militar e civil) e urbanístico que harmoniosamente convergem, conferindo a Estremoz uma alma e estética muito própria, que distingue esta cidade das restantes no Alentejo e país. “Para além do Castelo, com a sua Torre de Menagem, inteiramente construída em mármore local, e circuito muralhado do século XVII com um conjunto de portas monumentais, temos várias igrejas, conventos e palácios que constituem um núcleo patrimonial de grande interesse. Destaco igualmente o urbanismo de Estremoz, que é um dos grandes patrimónios históricos desconhecidos do grande público”, adianta José Daniel Sádio. Fruto da Guerra da Restauração, este urbanismo foi estruturado de forma a dotar, a então, vila medieval de largas praças e ruas que possibilitassem a deslocação, acantonamento e parada de tropas, com as novas armas de fogo, cavalos e artilharia. O sucesso cultural e turístico de Estremoz assenta não apenas nesta riqueza monumental, ou museológica, mas também num ímpar património endógeno, de onde fazem parte a sua gastronomia e produtos como enchidos, queijos, azeites e, claro, o vinho. “Temos todos os sábados um mercado de produtos da terra, com muitas bancas de velharias e produtos regionais diversos, que é um ponto de atração nacional e transfronteiriço, com milhares de visitantes, pois oferece o melhor e o que é mais genuíno da região”, afirma o Presidente. A unir o monumental ao endógeno, a “Cidade Branca” tem o seu elemento mais identitário, os “Bonecos de Estremoz”, cujo “saber-fazer” foi inscrito pela UNESCO na sua lista representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade.
“Saber-fazer” do figurado em barro de Estremoz classificado Património do Mundo
Detentora de um património cultural único, Estremoz viu em 2017 ser reconhecida como Património Cultural Imaterial da Humanidade a “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”. Com mais de 300 anos de história, este património acompanha a história da cidade desde o século XVII quando Estremoz vivia um período da sua história penoso em virtude da guerra. Os homens estavam a combater e as mulheres assumiam as suas funções. É neste contexto, onde as pessoas se apegavam à transcendência em virtude do sofrimento da guerra, que algumas mulheres, com conhecimentos de trabalho no barro, se aventuraram a modelar figurado religioso. Dos santinhos, e dada a expansão do gosto presepista da setecentista Escola de Mafra, passou-se às cenas de natividade. Os presépios eruditos, observados nos conventos e também em casas mais abastadas, foram adaptados à mundividência popular das bonequeiras. Assim, na cena envolvente à da Sagrada Família nasceram os Reis Magos, os Ofertantes regionais, e um vasto reportório de figurado local. Hoje estas figuras “sobrevivem” fora do presépio. Em 1935 Sá Lemos, Diretor da Escola Industrial de Estremoz, convence “Ti Ana das Peles” a ensinar o que sabia da arte e a participar no processo de “ressuscitar” as figuras que já ninguém modelava desde a década passada. Deste feliz encontro de saberes, nasce o gosto da família oleira Alfacinha, nomeadamente Mariano da Conceição pelos bonecos, que o transmite a alguns empregados da olaria e a familiares diretos, assegurando deste modo a continuidade da arte, que ainda hoje é trabalhada pelas habilidosas mãos de alguns produtores locais, como as irmãs Flores, Fátima Estróia, Afonso e Matilde Ginja, Duarte Catela, Ricardo Fonseca, Isabel Pires, Jorge da Conceição, Madalena Rolo, Carlos Alves e Inocência Lopes. “O figurado de Estremoz é genuíno, com mais de três séculos de história, cuja memória faz parte da identidade dos estremocenses, e desde 2017 é um ‘saber-fazer’ que faz também parte do património da humanidade”, afirma o Presidente do Município.
“Bonecos de Estremoz” são a identidade e génio criativo do povo estremocense
O património cultural assume uma importância vital na preservação da memória e da identidade dos povos. Para José Daniel Sádio a classificação dos “Bonecos de Estremoz”, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, representa o reconhecimento do génio criativo deste povo, da relevância da sua identidade e memória histórico- patrimonial para o mundo. “Representa ainda junto das novas gerações, que é importante a salvaguarda desta arte, pois ela faz parte da sua identidade e é reconhecida como de extraordinária importância para a UNESCO.” Para além disso, esta classificação teve ainda um impacto relevante no âmbito do turismo cultural, uma vez que, posicionou Estremoz como uma cidade de referência internacional. “Temos, anualmente, centenas de milhares de turistas em Estremoz, não só pela nossa riqueza em termos de património monumental, mas também pelo selo UNESCO que nos distingue e valoriza ainda mais”. Decorridos três séculos desde a produção do primeiro figurado de barro, os emblemáticos “Bonecos de Estremoz”, com as suas cores garridas, continuam a encantar quem pela cidade passa, sendo hoje um dos principais cartazes de visita deste território. Foi a pensar na valorização e promoção deste património distinto que o município criou o Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, com o objetivo de contar o passado, descrever o presente e apontar caminhos para o futuro desta arte. Para quem deseja saber um pouco mais sobre este Património Mundial, o Museu Municipal de Estremoz conta também com um valioso acervo de figurado de barro local, do século XVII ao XX, que pode, e deve, ser consultado. As crianças também não ficam de fora. Ao longo do ano são inúmeras as iniciativas desenvolvidas junto dos mais pequenos com o objetivo de promover e dar a conhecer esta arte secular. “Desenvolvemos AEC nas escolas, no intuito de divulgar a arte junto das nossas crianças, que podem também, em âmbito escolar, participar em atividades educativas promovidas pelo Museu. É com orgulho que dizemos, que não há uma criança em Estremoz que não tenha em casa um bonequinho feito por si. Para além disso, através do setor de turismo, levamos o figurado conosco quando representamos o concelho em feiras em Espanha e Portugal, dando-o a conhecer a um público alargado e sedento de arte genuína e com história”.
Viva e sinta Estremoz
Conhecido por ter sido “casa de muitos reis e rainhas de Portugal”, Estremoz é detentor de um património riquíssimo do ponto de vista histórico, arqueológico e cultural. E a verdade é que não é fácil encontrar uma cidade que junte tantas qualidades e
atributos como esta. “Reunimos todas as condições para receber quem nos visita, com qualidade, diversidade de propostas e oferta de qualidade, assente no que é verdadeiramente genuíno, do que é realmente nosso”, afirma o Presidente do Município de Estremoz. Se está a pensar visitar esta emblemática cidade alentejana, José Daniel Sádio aconselha-o a iniciar a sua visita “a partir do mercado semanal, que se realiza todos os sábados, e conhecer as gentes desta terra e o seu inigualável património gastronómico”. De seguida, nada melhor que contemplar a riqueza histórico-cultural da cidade e do concelho, espelhada nos inúmeros monumentos e edifícios que o preenchem. Tudo isto, sem esquecer de levar consigo para casa um dos Bonecos de Estremoz, um artesanato único e ímpar, marca identitária e do génio das gentes desta terra. Já dizia George Eliot que “ninguém pode ser sensato com o estômago vazio”. Por isso, o melhor mesmo é aproveitar a oportunidade e degustar dos melhores sabores da gastronomia alentejana nos inúmeros espaços de restauração local. Mas atenção, não se esqueça de fazer sempre acompanhar a sua refeição ou petisco com o afamado vinho alentejano. Para que a experiência fique completa, José Daniel Sádio aconselha-o ainda a visitar os museus do concelho que, em 2022, receberam mais de 63 mil visitantes. “Destaco pela qualidade o Museu Berardo Estremoz, que tem a maior coleção ibérica de azulejos em exposição permanente, mas também o Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz. Permitam ainda que promova o fantástico Centro de Ciência Viva de Estremoz, uma parceria que temos com a Universidade de Évora, onde o visitante pode conhecer a história geológica da Terra e um pouco da riqueza do subsolo de Estremoz”. Dito isto, o melhor mesmo é fazer-se à estrada, visitar este território, conhecer a sua história, património e cultura, e usufruir de uma estadia única, como só os estremocenses conseguem proporcionar. “Os estremocenses sabem receber. São acolhedores, e apreciam todos aqueles que vêm conhecer a sua terra e fruir do melhor que esta tem para oferecer”.