Com a adição, em 2023, dos 18,8 hectares referentes à Zona de Couros aos 19,4 hectares do Centro Histórico de Guimarães como Património Mundial da UNESCO, a “Cidade Berço” conta com uma zona UNESCO com quase 40 hectares, algo pioneiro em Portugal. Fique a conhecer, pela voz de Ana Cotter, Vareadora do Urbanismo e Centro Histórico, a beleza histórica da cidade vimaranense.
O Centro Histórico de Guimarães está classificado como Património Mundial da UNESCO desde 2001. Qual a riqueza aqui presente que permitiu alcançar esta distinção internacional?
Na declaração retrospetiva de Valor Universal Excecional, a UNESCO destaca o facto de se tratar de um centro histórico bem preservado, com a presença corrente de técnicas de construção tradicionais e com uma grande diversidade de exemplos arquitetónicos que ilustram a evolução da arquitetura e urbanismo portugueses. Destaca também o facto de se tratar de um conjunto de edifícios e paisagem urbana indissociáveis do nascimento da identidade e linguagem portuguesas.
No passado dia 19 de setembro, a UNESCO reforçou a distinção alargando-a à Zona de Couros, adicionando mais camadas à relevância histórica de Guimarães. Ao castelo, palácio, conjuntos monásticos e demais burgo de estrutura medieval, somou-se a parte baixa da cidade onde desde os primórdios de “Guimarães”, tal como a conhecemos hoje, se desenvolveu a atividade de manufaturas de transformação de curtumes. A riqueza está também neste testemunho da relação dos espaços do Trabalho com o desenvolvimento urbanístico e socioeconómico, comum a inúmeras cidades, mas em raros casos tão bem, e tão claramente legível, como em Guimarães.
Desde os anos 80 do século passado que o Centro Histórico de Guimarães tem sido alvo de um grande plano de recuperação.
Quais os trabalhos levados a cabo para dinamizar a região e, uns anos mais tarde, alcançar o estatuto máximo da UNESCO? Atualmente, quais os cuidados de preservação que o município aplica tendo em vista manter o bom estado do seu património?
O Município tem mantido ou reforçado inúmeros aspetos da preservação e conservação do património. Da limpeza dos espaços públicos à colaboração com os privados na conservação e regeneração dos edifícios, passando por investimentos reconhecidos na dotação de novas valências no centro da cidade. Um exemplo muito claro é o da Zona de Couros, com equipamentos universitários como o Instituto de Design, o Centro Ciência-Viva, a Pousada da Juventude, o Teatro Jordão, o Conservatório de Música, entre outros; que bem demonstram a aposta na reabilitação do património e na revitalização destas áreas através da promoção da cultura, do conhecimento e da educação.
Em 2022 a Zona de Couros apresentou a sua candidatura a Património Mundial da UNESCO, tendo alcançado este patamar em setembro do ano passado. Qual o valor patrimonial e histórico aqui presente que, na sua ótica, justificam esta distinção?
A inscrição de um Bem na lista do Património Mundial é efetuada perante uma análise comparativa com os restantes bens equiparáveis, em todo o mundo; e dessa avaliação pode concluir-se, em casos raros, que um Bem tem um Valor Universal Excecional. Isso mesmo sucedeu em Guimarães, sendo também muito incomum uma ampliação tão significativa (duplicação da área), e mais ainda de uma cidade, que é dinâmica, sujeita a grandes pressões e, como tal, mais vulnerável. Por isso, para além do que pode ser lido em toda a documentação da candidatura, que é pública, releva esta ideia de que a distinção nos sujeitou a uma avaliação muito detalhada, especializada e profunda, da qual se concluiu que Guimarães é merecedora deste estatuto
Com adição dos 21 hectares referentes à Zona de Couros aos 19 hectares do Centro Histórico de Guimarães, a “Cidade Berço” conta com uma zona UNESCO com cerca de 40 hectares, algo pioneiro em Portugal.
Qual o significado e importância para o município de tamanho feito?
É conhecido o impacto que a classificação da UNESCO tem, direta e indiretamente. Desde logo, é o reconhecimento de um trabalho continuado, de muitos anos, e que envolve múltiplas camadas de participação e de decisão, ao nível local, regional, nacional e internacional. Não podendo deixar de mencionar o Presidente da Câmara, Dr. Domingos Bragança, que deu formalmente início a esta segunda candidatura e o Arquiteto Ricardo Rodrigues, que liderou a parte técnica, destaco, em especial, ao nível local, que o envolvimento da população é um fator determinante na avaliação destas candidaturas, e é também determinante para que o trabalho tenha sucesso efetivo, na prática, e no dia a dia. A autenticidade presente no espaço público advém da correlação entre o público e o privado e entre a arquitetura e as pessoas, que é coerente e não muito comum. O reconhecimento não deve, por isso, ser entendido apenas como “um feito” do Município, porquanto se trata de um processo no qual foi, é e será determinante o empenhamento dos moradores, dos promotores, das associações locais, etc. É matéria coletiva, efetivamente, que o Município conseguiu demonstrar que merece ser elevada ao mais alto patamar de reconhecimento patrimonial, junto da UNESCO.