: 26 de Setembro, 2025 Redação:: Comentários: 0

Todos os anos, milhares de pessoas vivem em Portugal com doenças graves e/ou incuráveis. Estas doenças afetam o corpo, mas também a vida, os projetos, as relações e a forma como cada pessoa se vê e é vista. O sofrimento pode ser físico, emocional, social e espiritual. Há medo, ansiedade, perdas sucessivas e incerteza sobre as forças para enfrentar o que se aproxima.

Os Cuidados Paliativos aliviam este sofrimento global em qualquer momento da doença. Desde o diagnóstico, acompanham o doente e a família em todas as fases e estendem-se, quando necessário, ao processo de luto, garantindo apoio contínuo e adaptado.

Ao longo do percurso, surgem períodos de grande intensidade: crises de sintomas, dores persistentes, falta de ar, internamentos inesperados ou decisões complexas sobre tratamentos. Em todas estas fases, a presença de uma equipa especializada, multidisciplinar, com competência científica e humanismo, torna a experiência mais leve e segura.

Para dar esta resposta existem médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, auxiliares, assistentes técnicos, assistentes espirituais e voluntários que atuam, em hospitais, unidades de internamento e na comunidade.

A garantia do acesso a estes cuidados depende da existência de equipas formadas, motivadas e com recursos adequados. O estudo recente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, junto de 41 equipas, confirma desafios persistentes: mais de metade funciona abaixo do número recomendado de profissionais; faltam recursos; espaços físicos são inadequados; e a articulação entre serviços precisa de reforço. Nos Cuidados Paliativos Pediátricos, poucas crianças e jovens têm apoio especializado, deixando famílias sem o suporte que faria a diferença.

Em 2025, a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos celebra 30 anos ao lado de profissionais, equipas, doentes e famílias, defendendo o direito de todos a cuidados adequados, que garantem alívio do sofrimento, promoção de dignidade e qualidade de vida em todas as fases da doença.

O acesso a Cuidados Paliativos deve ser universal, independentemente do local onde se vive ou dos recursos de cada família. É um direito humano, uma escolha ética que revela quem somos enquanto sociedade e um dever do Estado, consagrado em lei desde 2012. Cumprir este compromisso exige investir em equipas completas, criar carreiras específicas, reforçar a formação, melhorar as condições de trabalho e implementar um plano nacional que una profissionais, decisores e cidadãos.

Neste Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, deixo um apelo: transformar o reconhecimento em ação. Porque cuidar é mais do que tratar — é acompanhar cada passo, aliviar o sofrimento, promover qualidade de vida e afirmar que cada vida tem valor até ao fim.

Catarina Pazes

Catarina Pazes, Presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos