Com uma abordagem profundamente sensível e artística, Antónia Pintado construiu uma carreira singular no universo das artes, decoração e design de interiores, onde cada projeto é encarado como um exercício de identidade, emoção e criatividade absoluta. Cofundadora da MAPSWONDERS, a artista destaca-se pela forma como transcende a técnica e se aproxima das pessoas, mergulhando no seu universo pessoal para criar espaços que reflitam verdadeiramente a sua essência.
Reconhecida pelo rigor, pela atenção ao detalhe e pela capacidade de transformar ambientes em manifestações artísticas, Antónia Pintado consolidou um percurso marcado por distinções, desafios superados e uma visão criativa alimentada pela história da arte, pela pintura e pelas grandes obras que atravessam gerações. Hoje, continua a reinventar-se, mantendo sobretudo um traço que a define: a busca incessante pela perfeição e pela autenticidade — sempre com a confiança plena dos clientes que lhe entregam mais do que casas, entregam-lhe a sua própria história. A artista percebeu, ainda muito jovem, que a sua vocação passava inevitavelmente pelo universo das artes. Dotada de uma sensibilidade estética ímpar e capaz de reconhecer beleza e expressão artística na pintura, na escultura, no mobiliário e até na moda, afirma que “não existe uma data específica para o surgimento da arte; ela nasce de maneira orgânica, assim como qualquer outra forma de expressão humana. A arte é essencialmente subjetiva: ou nasce com a pessoa, ou não. Ela é sentida, não aprendida, estando, de certa forma, inscrita no nosso ADN.
Apesar dessa dimensão inata, Antónia Pintado considera que o talento pode — e deve — ser aperfeiçoado através do estudo, da técnica e do contacto com diferentes influências. Foi precisamente assim que construiu o seu percurso: “desde cedo, desenvolvi o meu percurso artístico por meio da prática e da convivência com outros artistas. Passei tardes inteiras com Agustina Bessa-Luís (escritora), frequentando regularmente exposições de pintura na Galeria do Jornal O Primeiro de Janeiro, nos anos 70 e 80”. Estes encontros, recorda, eram pautados por conversas densas e enriquecedoras, nas quais observava cada detalhe com atenção, aprendendo através da simplicidade e da generosidade das partilhas. Concluído o ensino secundário, ingressou na Escola Cooperativa de Ensino Superior Artístico Árvore, onde voltou a cruzar-se com nomes de referência — professores como Abel Mendes, José Rodrigues, Henrique Silva, Fernando Gaspar e Júlio Capela, entre outros, que guarda na memória com especial estima. Durante três anos, aprofundou conhecimentos em várias áreas artísticas, incluindo cerâmica, que explorou na Escola Galeria Espaço.

A transição para o interiorismo
Até ao início dos anos 90, Antónia dedicava-se exclusivamente à pintura. Porém, de forma natural, o interesse pelo interiorismo começou a ganhar espaço, ampliando o seu território de criação e permitindo-lhe explorar novas linguagens: “abrangendo um leque mais amplo de exploração estética: design, mobiliário, iluminação e decoração”, explica. Foi nesse contexto que, em 2012, fundou, juntamente com o marido, Vítor Pintado, a MAPSWONDERS — marca especializada em mobiliário e iluminação. Ele assume o papel de impulsionador do projeto, enquanto Antónia ocupa o cargo de diretora criativa. Como refere, “o trabalho no interiorismo expandiu-se a partir das necessidades dos clientes, incluindo gestão e organização de espaços, o que se tornou uma grande paixão e fonte de satisfação profissional. Todo o meu percurso artístico e profissional está interligado, inspirado em escolas e movimentos como a Escola de Bauhaus, o Suprematismo Russo e Construtivismo Russo”. Atualmente, a artista disponibiliza um vasto leque de serviços aos seus clientes, onde se incluem a organização e gestão de espaços com mobiliário próprio ou familiar; pintura e decoração de interiores “chave na mão”; projetos para hotéis e espaços públicos; e consultoria estética e design de ambientes.
Projetos com assinatura pessoal
Trabalhar com Antónia Pintado não se limita à possibilidade de conversar sobre arquitetura; envolve também a oportunidade de explorar outras expressões artísticas, bem como história e pintura. Antes de iniciar qualquer projeto, a cofundadora da MAPSWONDERS faz questão de conhecer verdadeiramente o cliente que tem diante de si, procurando compreender a sua identidade. No fundo, privilegia a criação de uma relação mais íntima, que ultrapassa a mera esfera profissional. A partir desse momento, consegue definir os passos seguintes e aprofundar determinadas questões, tais como a interpretação de peças e de escultura. “O desafio surge quando lidamos com indivíduos que possuem uma forte sensibilidade artística”, revela. Ainda assim, consegue sempre deixar a sua marca pessoal, que a distingue e diferencia dos demais profissionais do universo artístico. Na verdade, são os trabalhos que lhe concedem liberdade criativa total — permitindo-lhe desenvolver cada detalhe até alcançar a perfeição — que mais prazer lhe dão. “Refiro-me, por exemplo, a clientes, para os quais já projetei residências que me dizem: «Faça o que quiser; não quero opinar sobre nada, nem sobre cores.» Este é o tipo de confiança e reconhecimento que representa a maior demonstração de gratidão que um profissional pode receber”, sublinha.


O reconhecimento do trabalho árduo e dos desafios ultrapassados
Ao longo da sua carreira, Antónia Pintado já teve oportunidade de colaborar com figuras de renome a nível internacional como, por exemplo, Pascua Ortega, Belén Domecq, Marta de la Rica, Alfons Tost, Thomas Urquijo, entre outros. Fruto desse excelente trabalho que desenvolveu ao longo dos anos foi distinguida, em 2009, com o Prémio Mobis, um dos reconhecimentos mais prestigiados em Portugal nos setores do mobiliário, design de interiores e arquitetura. Para si, este galardão representa sobretudo o reconhecimento do esforço diário. “É motivo de orgulho e satisfação, especialmente quando somos distinguidos entre os profissionais mais destacados da área”. Apesar de hoje ser uma mulher de sucesso, o percurso até aqui não foi sempre simples. Para a entrevistada, um dos maiores desafios da profissão é conseguir que os projetos reflitam verdadeiramente o universo de quem os habita, extraindo o melhor de si e dos seus clientes. Para isso, considera essencial visitar as suas casas e dialogar sobre vários temas, de modo a compreender em profundidade o universo pessoal de cada cliente.

Inspirações e olhar sobre o futuro
Embora admita que não segue tendências, Antónia Pintado considera que esta é uma área que exige conhecimento, estudo e referência aos grandes artistas, que servem de inspiração e incentivo à criação. Realça ainda a importância da criatividade, inovação e reinvenção assentes em bases sólidas, enquanto fatores determinantes para o sucesso. “Tendências marcam épocas; quando são de qualidade, permanecem relevantes por toda a vida. Quem não conhece a cadeira Barcelona, de Mies van der Rohe (1945), ou a mesa de Eileen Gray, chaise-Lounge de Cobursier, a mesa oval dinnig table de Eero Saarinen”, refere, acrescentando que “as tendências atuais consistem, frequentemente, apenas na releitura dessas obras clássicas”. Quanto ao futuro, prefere não revelar muitos detalhes, mas confessa que tem já alguns projetos em desenvolvimento, alguns deles ligados à pintura e ao universo da moda. “Um dos projetos envolve uma exposição de pintura que será exibida em breve numa exposição em Madrid, na Sala Canal Isabel II, com data a ser agendada. Outro projeto, que não revelarei por enquanto, está destinado a uma marca francesa e integra o universo do cinema e da moda”, revela.
Por fim, e não menos importante, Antónia deixa palavras de apreço ao seu grande amor e parceiro de negócio: “não gostaria de encerrar esta entrevista sem homenagear a pessoa que, nos momentos mais desafiadores, me impulsiona: meu melhor amigo e marido, Vítor Pintado, cuja presença e apoio são incondicionais”.
