Para além de representar um importante polo académico, o Politécnico de Tomar destaca-se por desenvolver uma série de atividades ligadas ao território que o rodeia, sendo um importante veículo de promoção e preservação do património local. Neste sentido, o IP Tomar sedia a Cátedra de Humanidades e Gestão Cultural Integrada das Paisagens, responsável por trabalhos “na esfera do património, da gestão de paisagens e da sustentabilidade”, tal como conta à Mais Magazine Luiz Oosterbeek.
Comece por nos contar um pouco da história desta Cátedra. Como surgiu a oportunidade de o IP Tomar criar esta divisão? Quais os objetivos que nortearam a sua fundação?
A ideia de criar a Cátedra UNESCO remonta a 2014, e tem duas raízes: um projeto europeu coordenado pelo IPT sobre o contributo das Humanidades para a gestão das paisagens e a sustentabilidade; e o interesse do setor de Ciências Sociais e Humanas da UNESCO e do Conselho Internacional para a Filosofia e as Ciências Humanas (no qual assumi funções de direção em 2014 também) nesta temática. A cátedra nasceu com o objetivo de ajudar a mudar o paradigma da gestão das paisagens e da sustentabilidade. Começou como uma rede de cerca de 60 instituições académicas e não académicas, de todos os continentes.
Qual o trabalho desenvolvido pela Cátedra de Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território, integrada no IP Tomar?
A Cátedra está associada aos trabalhos do IPT na esfera do património, da gestão de paisagens e da sustentabilidade. Ela faz parte do projeto estratégico do Centro de Geociências (apoiado pela FCT), mas envolve o conjunto dos centros do IPT, e está na base do Mestrado Erasmus Mundus sobre gestão de paisagens e do Doutoramento em Património, Tecnologia e Território, além de diversos projetos aplicados de desenvolvimento territorial em mais de 60 países.
Quais os principais projetos que esta Cátedra desenvolveu nos últimos anos que gostava de destacar?
Destacaria a criação da Associação Internacional APHELEIA para a gestão integrada de paisagens e a criação do novo programa internacional da UNESCO com este foco: o programa BRIDGES, que começou a ser estruturado no âmbito da cátedra e veio a ser aprovada pela assembleia geral da UNESCO em 2021, sendo o seu mais recente programa mundial.
Qual a importância de o Politécnico de Tomar ser uma instituição conectada com o território onde se insere e ser um motor de promoção e preservação do património aí presente?
O ensino superior só faz sentido se for capaz de equilibrar e integrar duas prioridades. Por um lado, manter uma distância saudável em relação às ansiedades do quotidiano, pensando e estruturando estratégias de formação e cenários possíveis e diversificados a médio e longo prazo, porque sem esta dimensão seria apenas mais uma entidade de gestão dos recursos herdados do passado. Por outro, ajudar a gerir melhor o território, formando recursos mais qualificados e incorporando essa dimensão de médio e longo prazo nas escolhas do dia a dia, para evitar que as escolhas de hoje sejam a raiz de problemas agravados amanhã. Creio que o IPT tem sabido fazer isso desde a sua fundação.
Fale-nos um pouco sobre a riqueza patrimonial presente em Tomar. Qual o seu valor e qual a importância de serem reconhecidos pela UNESCO?
O património da região é muito importante. Desde logo o Convento de Cristo, obviamente, mas também os mais antigos vestígios da presença humana e de arte no atual território português, os primeiros vestígios de agricultura na margem direita do rio Tejo, a importantíssima atividade mineira que ligou a região ao Mediterrâneo e à Europa desde há mais de 3.000 anos, os incontáveis castelos e outros vestígios que marcam o território, sem esquecer os saberes e gestos que se replicam há séculos. O reconhecimento pela UNESCO é uma responsabilidade: a de cuidar desse património para a Humanidade e não de forma fechada e arrogante, protegendo-o para um futuro de bem-estar, harmonia e paz, e não apenas como recurso económico de curto prazo. É essa a mensagem da UNESCO, que a Cátedra apoia em pleno.