A Savannah Resources é a única proprietária do Projeto Lítio do Barroso, em Trás-os-Montes, que contém o recurso mais significativo de espodumena de lítio na Europa Ocidental. Dale Ferguson, CEO da Savannah Resources, deu a conhecer em entrevista à Mais Magazine este projeto que colocará Portugal como parte integrante da cadeia de valor de baterias de lítio, que se encontra em rápido crescimento em toda a Europa.
Comecemos a nossa conversa por conhecer um pouco melhor o universo Savannah Resources e em que momento adquiriu o seu principal ativo, o Projeto Lítio do Barroso?
Em maio de 2017, a Savannah Resources PLC adquiriu 75% da concessão C-100 Mina do Barroso, que foi concedida aos anteriores proprietários em 2006 com uma duração inicial de 30 anos. Ao abrigo desta concessão, a exploração mineira já está a ter lugar na região, particularmente para o quartzo e feldspato. Em junho de 2019, a Savannah adquiriu os restantes 25% da Concessão para se tornar no único proprietário do Projeto.
O Projeto Lítio do Barroso é o mais significativo projeto convencional de lítio na Europa. O que pode representar este projeto no processo de transição energética da Europa?
O lítio é essencial para mitigar os efeitos das alterações climáticas e cumprir o objetivo da neutralidade carbónica. Temos de deixar de depender dos hidrocarbonetos como principal fonte de energia, e o lítio tem uma grande importância estratégica para alcançar estes objetivos, uma vez que as baterias de iões de lítio podem ser utilizadas tanto para armazenar a energia gerada a partir de fontes renováveis como para fornecer energia sem quaisquer emissões nocivas numa grande variedade de aplicações móveis, incluindo veículos elétricos. O desafio para a sociedade assenta no fornecimento responsável de lítio e outras matérias-primas críticas suficientes para apoiar a transição energética. A concorrência global por estes materiais está a aumentar rapidamente e a Europa será um grande consumidor. Como resultado, a nova Lei Europeia das Matérias-Primas Críticas exige que pelo menos 10% da procura regional destas matérias sejam fornecidos a partir de fontes nacionais. Como maior produtor de lítio existente na Europa e sexto maior produtor mundial, Portugal tem uma oportunidade real de se tornar num importante ator estratégico na cadeia de valor das baterias europeias. E a Savannah, que está empenhada na produção responsável de lítio, pode ajudar Portugal a atingir este objetivo.
Estima-se que o Projeto possa produzir anualmente lítio suficiente para aproximadamente 0,5 milhões de baterias de veículos elétricos. Podemos afirmar que o Projeto Lítio do Barroso contribuirá para estabelecer a empresa, mas também Portugal como parte integrante de uma cadeia de valor em rápido crescimento em toda a Europa?
Sim, a oportunidade de criar crescimento económico a longo prazo baseado na utilização responsável dos seus recursos naturais é uma oportunidade que Portugal não deve perder. É um projeto seguro e pioneiro, que pode dar um contributo significativo para o PIB do país, atuar como base para o desenvolvimento de outra parte da cadeia de abasteci[1]mento de baterias em Portugal, e ajudar a evitar que milhões de toneladas de CO2 entrem na atmosfera no futuro.
A descoberta do lítio em Portugal já promoveu o anúncio de duas grandes iniciativas de refinação de lítio no país, a refinaria Galp/Northvolt em Setúbal e um alinhamento entre Bondalti e Reed Advanced Materials. Portanto, o Projeto Lítio Barroso contribuirá para esta cadeia de valor com a peça chave, o lítio.
A Savannah Resources assumiu como principal missão promover de forma responsável a revolução da energia elétrica na Europa. Por onde passará essa estratégia e de que forma a empresa procurará desenvolver este projeto de forma ambientalmente responsável?
É intenção da Savannah criar e operar este Projeto de forma a causar o menor impacto no ambiente. Por exemplo, não vamos retirar água do rio Covas, mas sim utilizar a água da chuva recolhida no local e reciclar 85% da água utilizada na lavaria. A paisagem será totalmente restaurada, por outras palavras, será idêntica à que estava anteriormente. O terreno será deixado em condições de ser utilizado posteriormente para a agricultura, turismo ou outros fins. Afastámos ainda mais as infraestruturas dos cursos de água, e o ruído estará sempre muito abaixo dos limites legais.
Quais os principais benefícios sociais, económicos e demográficos que o Projeto pode trazer para a região Norte e para Portugal?
Em termos económicos, o Projeto irá gerar mais de 200 empregos diretos a longo prazo e potencialmente mais 2000 empregos indiretos e induzidos através da procura adicional que irá gerar em bens e serviços. Atuará como um importante gerador de receitas para o município de Boticas e para Portugal, através da contribuição de impostos e royalties, e, de acordo com um estudo da Universidade do Minho, poderá acrescentar 1,37 mil milhões de euros ao PIB de Portugal ao longo da sua vida.
Espera-se que com a criação de emprego seja possível inverter a tendência de despovoamento que se tem verificado na região nas últimas décadas. Além disso, o Projeto poderá oferecer uma série de programas sociais através da educação, formação, empreendedorismo e cultura, incluindo a ajuda na criação de uma Fundação que receberá um donativo anual de 500 mil euros do Projeto.