Já são conhecidos os vencedores da edição de 2022 do Galardão Bandeira Azul. Este ano subordinado ao tema “Recuperação de Ecossistemas”, o programa promovido pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) premiou 393 praias, 18 marinas e 20 embarcações ecoturísticas, num total de 431 bandeiras atribuídas – mais 32 do que no passado ano. Trinto e cinco anos depois de hastear a primeira Bandeira Azul, Portugal continua a traçar um importante caminho rumo à sustentabilidade e na proteção do ambiente marinho, costeiro e lacustre, como nos explica em entrevista José Archer, Presidente da Associação Bandeira Azul da Europa.
A Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), fundada em 1990, é uma Organização Não Governamental de Ambiente, dedicada à Educação para o Desenvolvimento Sustentável e à gestão e reconhecimento de boas práticas ambientais. Iniciou a sua atividade com o programa Bandeira Azul, o qual espelha a importância do seu trabalho no campo da educação ambiental e para um desenvolvimento sustentável. Tendo como “core business” a educação ambiental para um desenvolvimento mais sustentável, a atuação da ABAE vem-se centrando ao longo das décadas na alteração dos comportamentos individuais e coletivos. “Entendemos que é através da mudança de atitude de cada um, no seu dia a dia, no seu território, na sua esfera de atuação, na interação com os outros e com o que nos rodeia, que se pode contribuir para mudar o rumo dos acontecimentos, inverter tendências e orientar, na direção certa, a atividade e o desenvolvimento de cada pessoa, entidade ou comunidade”, começa por confidenciar José Archer. Assim, a ABAE, através dos múltiplos programas e projetos que implementa, procura conduzir pessoas e entidades a uma mudança de atitude, consciente e voluntariamente. “Trata-se de uma abordagem pela positiva, evidenciando os resultados alcançados a curto e longo prazo, promovendo o reconhecimento do empenho, trabalho feito e a responsabilidade pela continuidade e progresso no caminho da sustentabilidade”, explica.
Programas ABAE educam para a sustentabilidade
Parte da Fundação para a Educação Ambiental (FEE), que agrupa entidades internacionais oriundas de 60 países, e com a qual desenvolve e promove atividades de Educação Ambiental para a Sustentabilidade, a ABAE implementa atualmente em Portugal, e em outros territórios de língua oficial portuguesa, os programas: Bandeira Azul – focado nas zonas balneares, costeiras e interiores, no ambiente marinho, portos de recreio, embarcações marítimo turísticas e embarcações de recreio; Eco – Escolas – iniciado em 1996 é destinado a escolas de todos os graus de ensino, desde o pré-escolar ao ensino superior, escolas profissionais e lares de dia; Jovens Repórteres para o Ambiente – pretende contribuir para o treino do exercício de uma cidadania ativa e participativa, enfatizando a vertente do jornalismo ambiental, no qual os jovens investigam e interpretam questões ambientais/de sustentabilidade relevantes a nível local; Green Key – um galardão internacional que promove o turismo sustentável através do reconhecimento de estabelecimentos turísticos, alojamento local, parques de campismo e restaurantes que implementam boas práticas ambientais e sociais, que valorizam a gestão ambiental nos seus estabelecimentos e que promovem a Educação Ambiental para a Sustentabilidade; ECO XXI – nasceu em Portugal em 2005 e tem como objetivos, entre outros, motivar os municípios para a importância do seu papel como parceiros e como agentes do processo de educação ambiental para o desenvolvimento sustentável formal e não formal; Eco Freguesias XXI – visa incrementar o desenvolvimento sustentável à escala local procurando envolver os cidadãos em geral e os dirigentes das juntas de freguesias em particular, na construção de uma sustentabilidade participada.
Parceiros – um importante aliado da ABAE na prossecução da sua missão
Para além dos elementos presentes nas diversas Comissões Nacionais dos programas, a ABAE tem contado também com colaboração de um conjunto de entidades que apoiam iniciativas específicas de cada programa e que constituem um importante aliado na prossecução da missão da associação. “A ABAE sempre privilegiou em todas as suas atividades o trabalho em parceria. Assumindo naturalmente a coordenação dos projetos em que se envolve, a ABAE beneficia assim da sua posição de entidade não governamental, independente e transparente, procurando unir e juntar esforços, aproveitar e valorizar o trabalho feito pelos seus parceiros e reconhecer o envolvimento de cada um”, explica o Presidente da associação. Cada programa conta assim com o inestimável apoio e contributo de diversos organismos e departamentos do Estado, universidades, institutos, associações e organizações, sob a direção da ABAE. A cada programa estão ligados parceiros, que permitem à ABAE um desenvolvimento e inovação permanentes, quer através do apoio específico a projetos implementados em cada ano nos diversos programas, quer no apoio continuado e de longo prazo a determinado programa. “Começo por destacar as parcerias estabelecidas entre a ABAE e 234 municípios portugueses, que asseguram o apoio a inúmeras iniciativas escolares, para além de apoio logístico para a realização regular de eventos, seminários, ou cerimónias de entrega de galardões”. Também o apoio da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), envolvida em permanência em todos os programas desenvolvidos pela ABAE, do Turismo de Portugal, da Direção-Geral da Educação e respetivas direções regionais, da Direção-Geral da Saúde, da Marinha Portuguesa e dos Governos Regionais, tem sido fundamental para que a Organização Não Governamental de Ambiente leve a bom porto as iniciativas e programas desenvolvidos. “De destacar na Bandeira Azul a Fundação Vodafone, parceiro há mais de 16 anos, com o programa da vigilância nas praias inserido no Projeto “Praia Saudável”; o Oceanário de Lisboa, que assegura anualmente a edição do folheto da Bandeira Azul; o LIDL, com a campanha “TransforMar” de sensibilização para a reutilização do plástico; a P&G, com o “Concurso das Boas Práticas para Concessionários”; e a empresa Águas de Portugal, bem como as suas concessionadas regionais em programas de Educação e Sensibilização Ambiental”, enumera.
Há 35 anos a tornar Portugal mais azul
A Bandeira Azul, que este ano celebra o 35.º aniversário, é um dos programas de educação para desenvolvimento sustentável desenvolvido pela ABAE. Iniciado em 1987, ainda antes da criação da ABAE, foca-se nas zonas balneares, costeiras e interiores, no ambiente marinho, portos de recreio, embarcações marítimo turísticas e embarcações de recreio. Assenta em critérios distribuídos por quatro grupos – (I) Informação e educação ambiental, (II) qualidade da água, (III) gestão ambiental e equipamentos e (IV) segurança e serviços – sendo 27 critérios imperativos, quatro critérios guia e um não aplicável em Portugal, perfazendo assim 32 critérios.
Portugal conta este ano com 393 praias, 18 marinas e 20 embarcações galardoadas, num total de 431 bandeiras azuis atribuídas. Números que refletem o importante contributo da ABAE na consciencialização para a importância da defesa do ambiente marinho. “Este número é muito expressivo e gratificante, pois, antes de mais, coloca Portugal, em termos percentuais, como o primeiro país, a nível mundial, com Bandeiras Azuis. O número atingido este ano é a melhor prova de que a Bandeira Azul se tornou um símbolo incontornável de qualidade e confiança e um fator de atração turística”, reconhece o Presidente. Os galardões atribuídos representam hoje quase 15 vezes mais Bandeiras Azuis que há 35 anos, e um aumento de 32 Bandeira Azuis em relação ao ano passado.
Em 2022 há mais embarcações de ecoturismo premiadas
O maior crescimento desta edição é o do Galardão Bandeira Azul para embarcações de ecoturismo, que conta com mais nove embarcações, de cinco novos operadores, passando, desta forma, a estar presente em todas as regiões, exceto nos Açores. Perante estes números, podemos afirmar que Portugal vem registando uma clara aposta num segmento turístico que utiliza de forma sustentável, o património natural e cultural, incentivando a sua conservação tendo em vista o desenvolvimento de uma consciência ambiental. “As embarcações de ecoturismo são, para além de um posto de turismo itinerante, uma potencial ferramenta de formação e educação ambiental, por isso, registamos com muito agrado este crescimento que revela, por um lado, uma maior preocupação em transmitir aos visitantes a importância da preservação do nosso mar e das espécies marinhas e, por outro, o reconhecimento da Bandeira Azul como sinal distintivo destas embarcações”, assume. Uma embarcação ecoturística com Bandeira Azul é hoje sinal de uma atividade turística consciente e sustentável, mas também de um potencial centro de sensibilização e educação ambiental, que promove o nosso património e constitui um cartão de visita para o território e região onde opera.
Praias fluviais premiadas potenciam desenvolvimento económico das regiões
Este ano voltou a realçar-se o crescimento contínuo e seguro das praias fluviais portuguesas galardoadas. A aposta na melhoria da qualidade das águas interiores e das zonas balneares portuguesas revelaram-se fundamentais para que, este ano, 50 praias fluviais possam hastear a bandeira, símbolo máximo da qualidade ambiental e fator de atração turística e desenvolvimento económico dessas regiões. A este propósito a ABAE, juntamente com duas universidades portuguesas, realizou recentemente um estudo que procurou apurar o impacto económico de uma Bandeira Azul, denominado “O Lado Verde da Bandeira Azul”. “Este estudo teve, entre outros, como caso de análise a praia fluvial da Albufeira do Azibo, em Macedo de Cavaleiros. O estudo apurou, em relação a 2016, o valor de 2.432.610 euros como excedente do consumidor. Isto demonstra a importância de que se reveste uma Bandeira Azul nas zonas balneares, especialmente do interior, e do retorno do investimento feito para dotar tais regiões de boas condições.
ABAE na luta contra as alterações climáticas
Nos 35 anos da Bandeira Azul muitos têm sido os temas das campanhas anuais. À semelhança de 2021, este ano, o programa continuou a trabalhar na “Recuperação dos Ecossistemas”. Um tema incontornável que vem reafirmar o compromisso da ABAE de trabalhar todos os dias em prol da sustentabilidade do nosso mar e das nossas zonas balneares. “A degradação dos ecossistemas tem um impacto direto no bem-estar de cerca 3,3 mil milhões de pessoas. Restaurar um ecossistema, terrestre ou marinho, é o processo de reverter a sua degradação e recuperar a sua funcionalidade ecológica, é melhorar a produtividade e a capacidade que o ecossistema tem para responder às necessidades da sociedade”, afirma José Archer. Alinhada com a Década das Nações Unidas para a Recuperação dos Ecossistemas, a edição da Bandeira Azul 2022 é também assim parte ativa na estratégia adotada por um Portugal resiliente no que respeita às alterações climáticas. “A FEE e a ABAE estão alinhadas com a Década das Nações Unidas para a Recuperação dos Ecossistemas e elaboraram uma estratégia – GAIA 20:30 – para abordar as três maiores ameaças ambientais, durante a próxima década – alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição ambiental – o que ilustra o compromisso da organização para se adaptar aos desafios ambientais que enfrentarão as gerações futuras. Hoje, mais do que um símbolo de qualidade, que distingue o esforço de diversas entidades em tornar possível a coexistência do desenvolvimento local a par do respeito pelo ambiente, a Bandeira Azul eleva o grau de consciencialização dos cidadãos, em geral, e dos decisores, em particular, para a necessidade de proteger o meio ambiente.
Trinta e cinco anos depois de hastear a primeira Bandeira Azul, Portugal continua no caminho da sustentabilidade. Para o futuro, fica a garantia de que a ABAE continuará a reafirmar o seu compromisso de trabalhar todos os dias em prol da sustentabilidade do mar e das zonas balneares, mas também a motivar a sociedade a fazer deste tema a sua luta. “A missão da ABAE continuará firmemente a implementar os seus programas, alargando o seu campo de ação, procurando que com estes programas e com a sua dimensão a nível internacional, continue a contribuir para a mudança de comportamentos, tornando cada pessoa um cidadão mais consciente e um agente de mudança”.