Há 50 anos, Portugal era notícia no mundo inteiro. Numa época menos imediata e efémera, o país foi-se apercebendo aos poucos do que se estava a passar em Lisboa. Em algumas aldeias mais remotas, só dias depois se ficou a saber. Para o sucesso do 25 de Abril foi fundamental a rádio, o mais popular meio de comunicação na altura.
Ainda na noite do dia 24, cinco minutos antes das onze horas, começava a tocar “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, na antena dos Emissores Associados de Lisboa, dando assim sinal para saída das tropas dos quartéis. A música tinha sido a vencedora do Festival da Canção desse ano, pelo que não levantaria qualquer suspeita. Exatamente 30 minutos depois, era a vez da “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, se fazer ouvir na Rádio Renascença, confirmando que a Revolução estava em marcha, e que já não se poderia recuar.
Ainda hoje, por mais que se repita esta música até à exaustão, aqueles passos iniciais fazem arrepiar, anunciando eternamente a alvorada de uma manhã (in)esperada. O som desses passos sobre saibro foi gravado no jardim do estúdio onde a música foi produzida, a 60Km de Paris, e foi uma ideia de José Mário Branco. Assim que entra a voz límpida de Zeca Afonso, é como se o nevoeiro levantasse do rio Tejo e começássemos a ver os militares nas ruas de Lisboa, a preto e branco. Quase todos tão novos, como um dos capitães mais decisivos e consensuais, Salgueiro Maia, que ainda não tinha completado 30 anos nesse dia.
Com um sentido de missão inabalável e uma coragem que parece só existir nos livros de História, os militares que fizeram o 25 de Abril, eternizados como “Os capitães de Abril”, arriscaram tudo, e entregaram a Liberdade ao Povo. Não podemos dizer que a devolveram, já que, mesmo antes dos 48 de Ditadura, nunca os portugueses tinham tido tanta liberdade e direitos como a partir de 1974.
50 anos depois, é um país necessariamente muito diferente aquele que agora olha para o futuro. Com uma Democracia madura, mas enfrentando muitos e novos perigos, alguns potenciados por meios de comunicação aos quais, curiosamente, apelidamos de mais democráticos. Ou seja, as redes sociais, um meio muito menos frio do que a Rádio ou a Televisão, onde todos podem ter voz, mesmo que se percam na cacofonia de todos quererem ser ouvidos. Amplificar efeitos significa isso mesmo, aumentar o melhor, mas também o pior dos seres humanos, sobretudo quando atuando “em manada”.
Mais do que nunca, até por toda esta exposição digital e mediática, é necessário ser o mais transparente possível. Combater populismos, mentiras e calúnias da única forma possível, com ética, seriedade, competência e também patriotismo. Porque gostar do nosso país é gostar de tudo aquilo que é, não dividindo e não radicalizando posições. A Liberdade não tem donos e nada nos dá o direito de não respeitar os outros.