O que começou como uma oportunidade inesperada tornou-se numa carreira guiada por propósito, sensibilidade e coragem para fazer diferente. Nesta entrevista, Solange Moreira, CEO e Cofundadora da Ukino Hotels, revela o percurso que impulsionou o crescimento do grupo e os princípios que considera essenciais para quem deseja destacar-se no setor do turismo.
Em que momento percebeu que o turismo se tinha tornado a sua verdadeira vocação?
Embora o turismo não tivesse sido a minha primeira escolha, percebi que esta área se tornara a minha verdadeira vocação muito antes de o reconhecer conscientemente. O meu pai trabalhava em turismo e, no final do 12.º ano, convidou-me a ir para Tenerife fazer as minhas primeiras práticas, numa altura em que estava a abrir uma delegação do tour operador com o qual colaborava. Eu preparava-me para seguir Direito e Ciência Política, mas aquela imersão no terreno, o contacto direto com o ritmo da operação, com diferentes culturas e com a energia própria do setor mudou completamente o meu rumo. Ali compreendi que o turismo reúne tudo o que me inspira: pessoas, cultura, impacto social e a oportunidade de criar experiências transformadoras. Percebi que era neste setor que podia colocar a minha empatia, visão estratégica e vontade de construir algo com propósito.
Depois de ter trabalhado em mercados tão distintos como a República Dominicana ou América do Sul, que aprendizagens procura agora aplicar na gestão da Ukino Hotels?
A diversidade destes mercados ensinou-me a valorizar a autenticidade local e, ao mesmo tempo, a capacidade de adaptação global. Trabalhar em países tão distintos como a República Dominicana, México, Estados Unidos ou vários destinos da América do Sul permitiu-me compreender que cada mercado tem ritmos, prioridades e estratégias muito próprias: desde as épocas de viagem, profundamente influenciadas por fatores culturais e climáticos, até aos critérios que determinam a escolha de um destino, segurança, acessibilidade, experiência, sustentabilidade ou identidade local. Aprendi que as formas de trabalho também variam significativamente: alguns mercados são mais imediatos e orientados para resultados, outros privilegiam relações de longo prazo, negociações detalhadas ou uma forte sensibilidade cultural.
Hoje, na Ukino Hotels, aplico estas aprendizagens equilibrando visão global com entendimento local. Ouvir cada destino, respeitar as suas especificidades, adaptar a estratégia à procura e manter práticas sustentáveis são elementos centrais da nossa gestão. A experiência internacional reforçou em mim a convicção de que a inovação deve caminhar sempre lado a lado com responsabilidade social e ambiental, criando um modelo onde as pessoas, o planeta e o desempenho económico coexistem em harmonia.
Que fatores considera terem sido determinantes para a Ukino Hotels alcançar um crescimento tão rápido?
Acredito que o nosso crescimento acelerado se deveu sobretudo a três pilares: coragem para inovar, sensibilidade para antecipar tendências e uma cultura organizacional profundamente humana. A Ukino nasceu num momento de incerteza global, mas transformámos esse contexto numa oportunidade para repensar o setor e criar um modelo de hotelaria mais consciente, flexível e alinhado com o futuro. Outra dimensão absolutamente determinante foi o profundo know-how que reunimos ao longo das últimas décadas, tanto a nível de destinos como de mercados emissores. Esta experiência permitiu-nos compreender com precisão os comportamentos de procura, as motivações de viagem, os fatores decisórios e a forma como cada mercado reage a contextos diferentes. Além disso, os contactos privilegiados que construímos ao longo dos anos transversais ao setor turístico. foram essenciais para acelerar parcerias, criar sinergias e garantir uma rápida penetração no mercado. Estes relacionamentos, baseados em confiança e credibilidade, deram-nos uma vantagem competitiva rara num período tão desafiante. A proximidade com as equipas, a agilidade estratégica e a clareza do nosso propósito completaram este percurso: construir uma marca sólida, desejada e centrada em experiências autênticas, sustentáveis e de alta qualidade. A Ukino cresceu rapidamente porque nasceu com alma, visão e uma compreensão real do setor e das pessoas que o movem.
Para terminar, que conselhos gostaria de deixar a quem está a dar os primeiros passos na área do turismo e pretende destacar-se?
Diria que o mais importante é cultivar a curiosidade e a paixão por servir. O turismo é feito de pessoas e para pessoas, por isso ouvir, compreender e agir com empatia faz toda a diferença. Mas acrescentaria algo essencial: é preciso uma profunda dedicação ao que se faz. Gostar genuinamente de criar experiências para os outros, colocar alma no detalhe, e ter a disponibilidade emocional para servir com autenticidade. Este setor exige esforço, tenacidade e perseverança não há crescimento sem compromisso, nem excelência sem entrega. Recomendo também que procurem formação contínua, abracem a inovação, respeitem o meio ambiente e desenvolvam uma visão global, mesmo quando trabalham localmente. E, por fim, que tenham coragem para ser autênticos: é a autenticidade que constrói marcas fortes, carreiras inspiradoras e experiências verdadeiramente memoráveis.

