
Em plena campanha eleitoral é importante estar atento.
Eleger um governo não pode ser algo que se faz de ânimo leve, escolhendo apenas por “clubismo” político ou porque a tendência é apoiar quem tem o discurso mais popular e viral.
É preciso ouvir o que os candidatos dizem, mas também intuir o modo como pensam e que visão têm para o futuro – e se o que propõem (se é que o fazem) é realista e vai de encontro às nossas expectativas.
É fácil acreditar em vendedores de ilusões. Especialmente em campanha eleitoral, muitos dirão aquilo que todos querem ouvir. Mas a mentira tem perna curta, pelo que surge sempre algum momento em que uma declaração, menos pensada ou preparada, mostra a verdadeira essência.
Em relação à área da Saúde e aos enfermeiros, é curioso como um SNS com contas à deriva dá azo a uma reflexão que justifica os números negros da dívida com o que se deu aos enfermeiros. Uma atualização do vencimento base dos enfermeiros, estagnada há 20 anos, é agora considerada fonte do problema – que, como todos sabemos, é provocada por uma gestão ineficiente; uma política de recursos humanos desastrosa, que deixou sair milhares de profissionais por falta de valorização; por uma gestão dos recursos, físicos, humanos e materiais, dominada por alguns lobbies, a quem interessa manter o atual cenário.
Peritos em “sacudir a água do capote”, sabemos que a culpa do atual estado do SNS, dos transportes, da habitação e de tantos outros problemas que põem em causa o país, será sempre do outro.
É preciso ver além do óbvio, estando atentos a todos os pequenos sinais que possam pôr em causa a democracia, a liberdade e todos os nossos direitos fundamentais, que deram tanto trabalho a conquistar e que, ao contrário do que se possa pensar, quando na mão de poderes absolutos, podem ser extintos, sem dó nem piedade. O mundo mostra-nos isso neste momento. Saibamos estar atentos aos perigos, bem reais, escondidos ou gritados, sem que percebamos bem o seu verdadeiro alcance.
É importante cumprir o dever cívico de votar, fazendo-o conscientes que dele depende o enquadramento em que teremos de viver. Uma inevitabilidade da democracia é que somos livres de escolher hoje a cor que nos representa, mas seremos escravos amanhã das consequências dessa escolha. Que seja livre, informada e muito, muito ponderada.
Raquel Botellero, Secretária da Direção da ASPE – Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros
