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A procura por formas de mobilidade mais sustentáveis é um dos grandes desafios do século XXI. O setor ferroviário não é exceção e, nesse sentido, a Hitachi Rail surge como uma das principais empresas a realizar um trabalho meritório na procura de soluções que reduzam o impacto climático e ambiental no setor ferroviário. Em entrevista à Mais Magazine, João António da Costa Araújo, CEO da Hitachi Rail GTS Portugal, S.A., aborda a responsabilidade ambiental da sua empresa, recorda os projetos mais marcantes e projeta “um futuro interessante” repleto de novos desafios que obrigam a “determinação e coragem”.

Para os leitores que ainda não conhecem a Hitachi Rail, comece por nos fazer uma breve apresentação da empresa.

Num mundo em constante mudança são marcantes as alterações que se verificam ao nível das populações e dos seus hábitos, de como vivem, onde vivem e, não menos importante, quanto vivem.

As previsões de crescimento da população mundial, bem como a tendência para a concentração das populações em grandes metrópoles, influenciam fortemente a procura por mais mobilidade, mais energia e mais industrialização num mundo cada vez mais digital.

Em paralelo, temos bem presente que esta evolução tem que ser conseguida assegurando a sustentabilidade e a redução do impacto climático e ambiental de modo a garantir um mundo habitável para as próximas gerações.

É neste cenário que a Hitachi Rail tem o seu papel ao preconizar novas soluções na área dos transportes ferroviários que contribuam, por um lado, para uma maior mobilidade das populações e, por outro, para ter o enfoque na referida preservação climática e ambiental.

Para atingir este objetivo, a Hitachi Rail conta com cerca de 24.000 colaboradores em mais de 50 países, onde se posiciona como parceiro fiável do Governo, Administrações de Infraestruturas e Operadores de Transporte. Com um portfólio extenso que inclui material circulante, energia, sistemas de comando e controlo de tráfego e sinalização, sistemas de comunicações e sistemas de bilhética intermodais, tem no seu leque de opções toda a cadeia de valor que vai desde o design à implementação, operação e manutenção.

Mais recentemente a Hitachi Rail reforçou, com a aquisição da Divisão de Transportes da Thales, uma presença geográfica nos 5 continentes, complementando o seu já vasto portfólio e assumindo um papel ainda mais prevalente no setor dos transportes a nível Mundial.

Fale-nos um pouco sobre a evolução da equipa portuguesa da Hitachi Rail e das principais conquistas alcançadas.

A equipa portuguesa da Hitachi Rail, iniciou as suas atividades ferroviárias no início dos anos 90 na Alcatel (mais tarde na Thales e hoje na Hitachi) com o lançamento do programa de modernização da Rede Ferroviária Nacional.

Em 1993 integrei a equipa portuguesa ainda enquanto Alcatel e desde então tenho conduzido as atividades no setor dos Transportes em Portugal num muito desafiante e interessante projeto de construção de uma equipa e de uma presença que já ultrapassou o território nacional.

Se no início dos anos 90 estávamos todos a aprender e a dar os primeiros passos nas atividades ferroviárias, hoje, ao fim de mais de 30 anos de atividade somos um reconhecido Centro de Competências nas áreas da Sinalização e das Comunicações Metro/Ferroviárias, com uma forte implantação no mercado português e, desde 2000, com atividades de exportação, tendo construído uma presença internacional em mais de 20 países. Somos também um centro de desenvolvimento de novos produtos e um centro de Inovação do Grupo.

Este reforço contínuo e consistente das nossas atividades resulta de uma estratégia que adotei desde o início da minha liderança que foi a de fixar em Portugal sempre mais competências e uma capacidade ímpar de sermos verdadeiros integradores de sistemas, i.e., sermos capazes, perante uma necessidade, de encontrar as soluções mais eficazes e menos onerosas. Foi este o mote do nosso desenvolvimento e o nosso fator distintivo no Mercado e no Grupo. O desafio pela melhor solução (custo/beneficio) era o saber de ser verdadeiro engenheiro.

Tudo isto obrigou a um maior investimento em recursos, em aprendizagem permanente e um benchmarking sedutor em relação às nossas capacidades. Ao longo destes 30 anos o nosso forte contributo para a modernização da Rede Ferroviária Portuguesa teve sempre como base, para além do já referido, uma forte presença local e um espírito de pioneirismo e inovação.

Fomos atores fundamentais na revolu-ção tecnológica espoletada no início dos anos 90, com a introdução das tecnolo-gias digitais nos sistemas de controlo de circulação, normalmente designados por sistemas de sinalização metro/ferroviária:

– Fomos pioneiros na introdução dos conceitos de integração de sistemas, nos sistemas de telecomunicações ferroviárias e nos sistemas de conforto para o passageiro;

– Fomos pioneiros na conceção e implementação de um novo conceito de Centros de Comando Operacional Ferroviário (CCO);

– Fomos pioneiros na introdução das tecnologias que permitirão que a Rede Ferroviária Portuguesa se integre nas redes transeuropeias através da adaptação e implementação dos novos sistemas de Sinalização, segundo os standards europeus de interoperabilidade ETCS/ERTMS (European Trains Control System/European Rail Traffic Management System);

– Fomos pioneiros na introdução dos sistemas embarcados que cumprem com as mesmas normas de interoperabilidade;- Somos pioneiros na introdução de soluções de ciberproteção dos sistemas de sinalização já instalados.

E, estamos já a preparar os caminhos futuros das tecnologias ferroviárias, seja pelo aprofundar da influência do digital, seja pela introdução de novos produtos, serviços e material circulante, entre outras inovações que um Grupo como a Hitachi nos dá acesso.

A vertente da sustentabilidade é umas principais bandeiras da Hitachi Rail, que procura ativamente por soluções de mobilidade sustentável. Quais os principais métodos implementados pela empresa na procura de soluções sustentáveis no setor da ferrovia? Quais as suas principais conquistas neste campo?

As questões ambientais são um foco de todo o Grupo Hitachi e a Hitachi Rail está fortemente implicada na Transição da Mobilidade.

Esta transição sustenta-se em soluções que promovam a redução da utilização do transporte próprio dentro das cidades, que permitam deslocações mais rápidas e “limpas” entre cidades, que permitam a gestão inteligente do tráfego e promovam uma melhor e mais eficiente intermodalidade, tudo isto assegurando sempre mais exigentes critérios de fiabilidade, pontualidade e conforto do transporte metro/ferroviário.

Para tal, o portfólio da Hitachi inclui Soluções Inteligentes de Gestão de Tráfego que permitem o planeamento e a execução de planos de exploração otimizados; ferramentas para a resolução e minimização dos impactos de perturbações resultantes de eventos externos ou internos; bem como soluções de ajuda à condução do material circulante que permitam uma condução otimizada, quer do ponto de vista do cumprimento dos horários, quer do ponto de vista energético.

Adicionalmente tem sido posto grande foco e esforço na utilização de uma cada vez maior percentagem de matérias reutilizáveis e reutilizados na construção do material circulante, como é o caso do veículo, vulgo comboio, recentemente lançado, Frecciarossa 1000.

Estes são só alguns dos exemplos concretos que a Hitachi Rail evidencia quanto à sua preocupação sobre a melhoria da eficiência energética do transporte ferroviário e consequentemente da sua contribuição decisiva para a descarbonização da ferrovia.

O tema da sustentabilidade e descar-bonização não se limita aos produtos e projetos. Como parte da sua estratégia de sustentabilidade, a Hitachi Rail está comprometida em atingir a neutralidade de carbono em 2030, e o “Commitment Net zero” de toda a sua cadeia de valor em 2050.

Em Portugal temos uma preocupação extrema quanto ao cumprimento dos procedimentos de Qualidade, Ambiente e Segurança relativos aos requisitos ambientais na execução dos nossos projetos e temos em execução um programa ESG (Entrerprise, Social and Governance) onde são desenvolvidas ações com os nossos colaboradores, e implementadas ações de sensibilização dos nossos parceiros relativamente às preocupações e ambições de sustentabilidade, entre outras.

Ao longo de 30 anos de atividade no setor ferroviário, vivi e continuo a viver intensos momentos, uns bons, outros mais desafiantes, mas são muitas as realizações que me alimentam de força e de querer.

A qualidade da equipa e o seu empenho determinado são também fatores críticos deste sucesso, pelo impacto relevante que têm tido ao longo destes 30 anos na mudança radical que se operou na Rede Ferroviária Portuguesa.

Ao longo destes anos, certamente que o portfólio de trabalhos desenvolvidos pela sua empresa está repleto de intervenções de excelência, mas, ainda assim, gostava de o desafiar a selecionar aqueles que maior orgulho lhe trouxe.

De todas as realizações, gosto sempre de recordar algumas que me marcaram e começaria no ano 2000 com a desafiante experiência que foi negociar o nosso primeiro projeto de exportação na Índia com Delhi Metro. Era um mundo novo e novas mentalidades a que estava exposto. Um jogo de forças diferente. Um projeto complexo, altamente desafiante num mundo novo, mas que nos aportou enorme saber quer em termos técnicos quer em termos interculturais.

De seguida gosto de recordar a muito gratificante experiência que foi a criação e construção de “A” a “Z” do Centro de Controlo Operacional de Lisboa que controla hoje cerca de 70% do tráfego ferroviário nacional, numa saudável e frutífera colaboração com a área Operacional e de Exploração da IP, onde a transparência e trabalho conjunto, não numa ótica de Cliente/Fornecedor, mas sim de parceiros com um objetivo comum, nos permitiu concretizar no tempo e dentro do budget um projeto inovador e especial que ainda hoje se mantém como uma referência internacional.

Não posso também deixar de referir a experiência que foi implementar integralmente o projeto de resinalização do Parque de Material de Neasden (Neasden Depot) do London Underground, o maior parque de material circulante (comboios) do Metro de Londres (LUL), onde não só adaptámos os sistemas de sinalização às regras do LUL, como preparámos e obtivemos a certificação de segurança dos sistemas instalados, concedida pelas autoridades Inglesas, sempre muito exigentes e formais em tudo o que diz respeito à Segurança.

Sobre este projeto tivemos a honra de receber um louvor escrito do Mayor de Londres, na altura, Mr. Boris Johnson, pelos bons serviços prestados tendo deixado escrito que o referido projeto lhe dava “bons argumentos para alavancar novos investimentos para a modernização das infraestruturas de Londres…”.

Mais recentemente, a introdução em Portugal, pela Hitachi, dos sistemas de Sinalização ERTMS/ECTS (interoperabilidade), cumprirá o desiderato de integrar Portugal nos corredores ferroviários transeuropeus.

Quais as principais metas a curto/médio prazo para a empresa?

Relativamente aos desafios que se nos colocam hoje direi que a conclusão da Ferrovia 2020 e o PNI 2030, incluída a Alta Velocidade, são desafios que nos levam a acreditar que há um futuro interessante, que nos obriga a encher o peito e ganhar coragem, olhando o futuro com esperança e determinação.

O montante dos projetos e de trabalho a realizar é significativo e exige um esforço de planeamento e coordenação entre todos os intervenientes, o que, do nosso ponto de vista é um tema onde todo o ecossistema ferroviário nacional, Gestor da Infraestrutura, Empreiteiros e Parceiros tecnológicos, têm que dedicar tempo e atenção.

Não basta lançar para o mercado as empreitadas. A experiência passada tem revelado que os timings políticos e os timings reais de execução das obras não estão alinhados.

Não será possível atingir os objetivos de modernização e executar as obras planeadas se não houver um tempo para pensar e sincronizar todas as partes.

Existe a motivação, os meios e a vontade, temos, no entanto, há que trabalhar no entendimento e sincronização entre todas as partes, pois neste tipo de projeto todos interferem com todos.

Parafraseando os valores que o fundador da Hitachi, Namihei Odaira, definiu para o Grupo e que o nosso Presidente Kojima continua a promover, manter o nosso espírito pioneiro, assegurar a harmonia no seio das equipas e a sinceridade intelectual para com os nossos clientes são os valores que nos orientam na prossecução da nossa visão.

Capitalizar o nosso passado, contribuindo para a sociedade através do desenvolvimento e implementação de novas tecnologias e produtos originais de superior qualidade, é o nosso desafio permanente em prol de um mundo melhor e das futuras gerações.