Criado no norte de Portugal e apaixonado pelo povo angolano, António Cunha tem dedicado a sua vida à nobre missão de auxiliar as comunidades angolanas e garantir o seu desenvolvimento, tal como conta à Mais Magazine. Foi com esse pensamento em mente que se tornou Cônsul-Honorário da República de Angola para os distritos de Vila Real, Viseu, Bragança e Guarda, e fundou a sua empresa, o Grupo 7 Cunhas, responsável pela criação de milhares de postos de trabalho.
De que forma o seu Consulado é um importante meio para aproximar e cimentar as relações entre Angola e os distritos de Vila Real, Viseu, Bragança e Guarda?
Uma das principais funções a que me propus, na condição de Cônsul-Honorário da República de Angola, foi ajudar para a resolução dos problemas das comunidades angolanas que vivem nestas regiões do interior e que têm menos acesso às representações diplomáticas das grandes cidades. As áreas abrangidas pelos distritos onde exerço funções têm muitos estudantes angolanos, a frequentar universidades e institutos superiores. Por outro lado, pretendo também dar a conhecer aos empresários e empreendedores portugueses oportunidades em Angola, onde foi criado um ambiente de negócios, mais transparente e amigo do investimento com as medidas implementadas pelo Presidente João Lourenço. Além disso, também quero abrir portas a investidores angolanos para projetos empresariais que existem nestes distritos portugueses.
Quais as principais áreas de negócio existente entre Angola e os distritos portugueses que defende? De que forma o Consulado é uma voz ativa na procura de investimentos de Portugal para Angola e vice-versa?
O objetivo fulcral da minha ação diplomática consiste em aumentar o número de empresários e investidores, oriundos e baseados nestes distritos, que estejam preparados para investir na economia angolana, bem como facilitar a ação de empresários e investidores angolanos nestas regiões de Portugal. Temos empresas inovadoras a funcionar em variados domínios, temos os vinhos, o azeite, com formas de produção que podem ser aplicadas em Angola ou que podem contar com investimento angolano. Por outro lado, estes projetos podem ser replicados na República de Angola. E pretendo, também, alargar a atividade diplomática com o estabelecimento de contactos regulares com a comunidade estudantil angolana, que frequente as Universidades e Institutos Politécnicos destas regiões, e à qual será prestado todo o tipo de suporte diplomático, consular e informativo. Aliás, um dos compromissos mais importantes do Cônsul–Honorário da República de Angola é o estabelecimento de parcerias culturais que permitam a identificação e captação de talentos destas universidades portuguesas e que possam vir a protagonizar, muito em breve, uma efetiva transmissão de conhecimentos a jovens estudantes e empreendedores angolanos.
Quais as principais metas a curto/médio prazo que o seu Consulado Honorário pretende alcançar?
Um dos aspetos mais importantes da minha missão é dar a conhecer, a todos os que habitam e trabalham nestes distritos, a realidade atual da República de Angola. É, seguramente, um país diferente do que muitos pensam. Sua Excelência, o Presidente da República e chefe do Executivo, João Lourenço, implementou desde o início do seu mandato um conjunto de reformas económicas e sociais para mitigar a excessiva dependência da economia angolana do sector petrolífero. A prioridade dos investimentos passou a ser direcionada para outras áreas fundamentais para se alcançar a sustentabilidade económica como sejam a agricultura, agropecuária, mineração, produção de energia e abastecimento de água. Foram implementadas uma série de medidas para combater a corrupção e criar um bom ambiente de negócios, mais transparente, que foram, aliás, amplamente elogiadas por organizações internacionais como o FMI e Banco Mundial e organizações não governamentais.
Virando agora o foco para o lado pessoal, dê-se a conhecer melhor aos nossos leitores. Qual o seu trajeto profissional? De eu forma surgiu a oportunidade de chegar a Cônsul? Por que razão decidiu juntar-se ao Consulado Honorário de Angola em Portugal para os distritos de Vila Real, Viseu, Bragança e Guarda?
Iniciei a minha atividade profissional muito cedo. Entre os 16 e os 18 anos conciliei os estudos com trabalhos administrativos e outros negócios, quando fundei a Tintas Europa no Distrito de Vila Real, empresa que ainda hoje constitui uma referência no mundo empresarial da região norte do território português, que comecei a afirmar-me como um empresário bem-sucedido, respeitado pelos meus pares e, sobretudo, pelos meus trabalhadores, clientes e fornecedores. A expansão da atividade empresarial levou-me até Angola, na década de 80, do século passado, onde fundei o Grupo 7 Cunhas que se notabilizou pela capacidade de erigir infraestruturas indispensáveis ao desenvolvimento da República de Angola. Há poucos anos alargámos o ramo empresarial aos seguros, com a criação da Trevo Seguros, já uma referência no sector em Angola, e que vem mantendo uma relação exemplar com os clientes e com os colaboradores .Em 2016, foi-me concedida a nacionalidade angolana, mais tarde cheguei a Cônsul-Honorário por candidatura através do Ministério das Relações Exterior (MIREX), o que muito me honrou. Em mais de 30 anos de vivência na República de Angola conheci a fundo a sociedade angolana, a sua estratificação etária, económica, social e política, e fui dos poucos que não saiu quando surgiu a crise que se viveu a partir de 2015. Reduzimos as atividades, mas o Grupo 7 Cunhas continuou a trabalhar, especialmente nos projetos mais urgentes e que eram vitais para a segurança, bem-estar e melhoria das condições das populações angolanas. Mesmo com o agravamento da crise, e apesar dos confinamentos e estabelecimento de cercas sanitárias, devido à pandemia da Covid-19, viajei muito pelo território angolano de forma a inteirar–me, pessoalmente, dos problemas que afetavam as populações, e a apresentar soluções que minorassem o impacto negativo de uma das mais complicadas situações com que a espécie humana se confrontou nos últimos anos. A instalação do Consulado Honorário, nos distritos de Vila Real, Bragança, Guarda e Viseu tem a ver com as minhas origens a nível empresarial. Nasci em Caíde de Rei, e penso que posso ajudar a melhorar a fluidez das relações entre os povos português e angolano. Temos a sede em Vila Real e, brevemente, teremos a nossa presença em Bragança, Guarda e Viseu.
Foi em solo angolano que abriu a sua própria empresa: o Grupo 7 Cunhas. Como surgiu essa oportunidade?
A 7 Cunhas surgiu do meu espírito empresarial em Angola e espalhou-se por províncias tão díspares como: Luanda, Lunda Sul, Lunda Norte, Moxico, Malange, Uíge, Zaire, Namibe e Cuanza Norte. Tem esta designação porque fomos 7 irmãos e optamos em estar em 7 Províncias, os valores familiares sempre tiveram grande importância para mim. Criamos mais de 3 mil empregos, na sua grande maioria de nacionalidade angolana já que tive sempre a preocupação que mesmo os técnicos expatriados, por mais qualificados que fossem, dispusessem parte do seu tempo para transmitir conhecimentos aos colaboradores angolanos.
Quais os serviços que a sua empresa disponibiliza no mercado?
O Grupo 7 Cunhas dedicou-se à área da construção e obras públicas, na construção de hospitais, postos médicos, escolas, estradas e vias urbanas, águas e saneamento, combate e estancamento de ravinas, recolha de lixo e hotelaria. Mais recente, entrámos no ramo dos seguros com a criação da companhia Trevo Seguros.
O Grupo 7 Cunhas desde sempre teve uma preocupação especial com a educação em Angola, preservação ambiental e proximidade com a comunidade. Fale-nos sobre os projetos que a sua empresa mantém nestes campos.
Um dos vetores que norteou sempre a nossa atividade em Angola foi a transmissão de conhecimento. Todos os nossos quadros, sejam engenheiros, técnicos especialistas, operários e operadores especializados, além das funções que exercem têm a obrigação de transmitir os seus conhecimentos profissionais aos colaboradores angolanos que trabalham nas diversas empresas do grupo 7 Cunhas. Além do mais, esforçamo-nos por ganhar concursos, sob a visão “construir bem e nos prazos”, mesmo que sejam nas zonas mais recônditas do imenso território angolano, colaborando com vários governos provinciais na política ambiental de recolha de lixo e resíduos que implica também uma transformação de mentalidade da população que, aliás, tem vindo a verificar-se de forma gradual nos últimos anos.