Em entrevista exclusiva à Mais Magazine, o Dr. Júlio Jacob, Diretor responsável pelo Leasing da ALF, explica por que razão esta modalidade de financiamento automóvel continua a ser subutilizada em Portugal, apesar de oferecer taxas significativamente mais baixas, maior previsibilidade e flexibilidade financeira. Entre as vantagens apontadas, destaca-se a redução do risco para os clientes, o apoio à aquisição de viaturas elétricas e híbridas e a capacidade de alinhar custos com a utilização real dos bens, tornando o Leasing uma solução estratégica para empresas e consumidores conscientes.
Recentemente surgiram notícias que mostram uma diferença muito significativa entre as taxas do crédito automóvel tradicional e as do leasing. Como explica esta disparidade que pode chegar a mais de metade?
As taxas inferiores no Leasing (ou Locação Financeira) resultam, essencialmente, da própria natureza deste produto, uma vez que através de Leasing, a entidade financiadora (a locadora financeira) mantém a propriedade jurídica do bem durante a vigência do contrato, o que reduz significativamente o risco da operação. Essa menor exposição ao risco reflete-se diretamente no custo do financiamento e, consequentemente, em taxas mais baixas.
No entanto, a grande disparidade entre taxas que atualmente se verifica resulta das limitações do método de cálculo das TAEGs máximas (taxas de usura) que o Banco de Portugal publica trimestralmente, em que apesar da TAEG ser mais baixa no Leasing, por exemplo, no mês de outubro de 2025, em 21.190 novos contratos de crédito automóvel, apenas 278 contratos tenham sido efetuados através de locação financeira (ou ALD).
Existe atualmente uma falha de mercado causada por motivos administrativos, que cria dinâmicas de mercado próprias, que impossibilitou a generalidade de Instituições de disponibilizarem este produto aos consumidores particulares, para prejuízo destes. Pensamos que não existe outra explicação para a forma menos onerosa de financiamento automóvel através de locação financeira ser tão reduzida, apenas 1,3% do total em outubro.
Temos vindo a dialogar com o Banco de Portugal para tentar solucionar esta falha de mercado criada por motivos regulatórios, em que se pretende proteger o consumidor português, mas acabou-se a reduzir a concorrência entre diferentes formas de financiamento e quase a retirar a opção do Leasing, que confere maior segurança jurídica e vantagens. Claro que nas empresas, já nada disto se verifica e o produto é sobejamente utilizado e cresce.
O leasing é muitas vezes apresentado como uma alternativa ao crédito automóvel. Na perspetiva da ALF, porque é que este modelo se afirma, cada vez mais, como a opção financeiramente mais racional para consumidores e empresas?
É uma opção financeiramente muito racional porque responde de forma mais eficaz às necessidades atuais de mobilidade e financeiras dos clientes. O Leasing permite adquirir um veículo com um esforço financeiro mensal inferior, maior previsibilidade de custos e sem necessidade de imobilizar capital. Para empresas, em particular, é uma solução que otimiza a gestão financeira e operacional, permitindo alinhar custos com a utilização efetiva do ativo e sendo dedutível o IVA nas rendas de acordo com a situação do cliente.
Em regra, apresenta taxas de juro mais competitivas face ao crédito automóvel tradicional, refletindo o menor risco da operação, já que a propriedade jurídica do bem permanece na esfera da entidade financeira durante a vigência do contrato.
Infelizmente, devido ao método de cálculo das TAEGs máximas pelo Banco de Portugal, o recurso ao Leasing por parte dos consumidores portugueses tem caminhado para quase zero.
Em termos práticos, de que forma o leasing oferece maior previsibilidade e menor exposição à volatilidade das taxas de juro?
Em muitos contratos de Leasing, as condições financeiras são definidas à partida e mantêm-se estáveis ao longo do tempo, sendo que geralmente as rendas de Leasing são compostas por capital variável e juros constantes, o que protege clientes de oscilações abruptas das taxas de juro.
Além disso, o Leasing define antecipadamente o valor residual do veículo, ou seja, o valor pelo qual o locatário (cliente) pode exercer o seu direito de opção de compra no final do contrato. Isso garante previsibilidade quanto ao esforço financeiro final, caso o cliente opte pela aquisição do bem no termo do contrato, para além de fazer diminuir o montante do bem locado objeto do contrato.
Permite ainda financiar os bens a 100% bem como os custos de registo, e uma grande adaptabilidade do esquema financeiro das rendas de acordo com a capacidade dos clientes (locatários financeiros).
Esta segurança e risco reduzido são particularmente relevantes num contexto económico marcado por incerteza e volatilidade.
Que tendências têm sido observadas no setor do leasing e de que forma estas estão a impactar o comportamento dos consumidores e das empresas?
Temos observado um interesse crescente em soluções que financiem a transição energética e tecnológica. Existe uma aceleração da transição para veículos elétricos e híbrido que tem sido expressiva e uma preocupação generalizada com as temáticas de ESG, igualmente muito valorizadas pelas Associadas da ALF.
Verificamos que o Leasing tem financiado as empresas nacionais de forma crescente nos equipamentos e viaturas, registando um valor total de investimento apoiados de 1,15 mil milhões de euros no 1º semestre de 2025, um crescimento de 60 milhões de euros face ao período homólogo, e ainda um apoio no Leasing Imobiliário que ascendeu aos 358 milhões de euros.
Os clientes valorizam cada vez mais modelos racionais do ponto de vista económico, digitais e rápidos, fatores que o Leasing responde de forma muito eficaz.
É neste enquadramento que o Leasing financeiro se consolida como uma solução cada vez mais relevante para empresas, e esperamos que o possa voltar a ser no futuro para consumidores.
Nos últimos anos, fala-se muito da renovação do parque automóvel português. Que papel tem o leasing desempenhado no apoio à aquisição de viaturas elétricas e de baixas emissões?
O Leasing tem sido um instrumento fundamental nesse processo, permitindo diluir o custo inicial mais elevado das viaturas elétricas, beneficiar de taxas de juro geralmente mais baixa e assegurar uma resposta rápida. Estes fatores têm facilitado a adoção de novas tecnologias e, ao adquirir quase 15% das viaturas novas vendidas em Portugal, é um produto indispensável para a continuada renovação do parque automóvel nacional e para a aceleração da transição energética.
No 1º semestre de 2025, as Associadas da ALF financiaram 20.193 viaturas através de Leasing, e destas, cerca de 40% foram viaturas 100% elétricas ou híbridas, valor que tem vindo a crescer nos últimos anos e que contrasta com 25% no período homólogo.
Considerando o contexto económico atual, espera que a procura por soluções de leasing continue a crescer? Quais são os principais motores dessa evolução?
Sim, acreditamos que a procura continuará a crescer. Os principais motores passam pelo aumento da competitividade do Leasing face ao crédito tradicional, a necessidade de maior previsibilidade e flexibilidade financeira, as necessidades decorrentes da transição energética e a preocupação continuada dos agentes económicos em procurarem as formas de financiamento mais adequadas e vantajosas. Olhando para os países mais desenvolvidos da Europa, verificamos que ainda possuem taxas de penetração do Leasing no investimento nacional muito superiores à verificada em Portugal, o que permite igualmente adivinhar um futuro de crescimento.
Que mensagem gostaria de deixar aos consumidores e empresas que ainda encaram o leasing como uma opção secundária face ao crédito automóvel?
A mensagem é simples: o Leasing não é uma solução alternativa ou de nicho, mas uma opção madura, competitiva e, em muitos casos, financeiramente mais vantajosa.
Antes de tomar uma decisão, é fundamental comparar os custos de financiamento e taxas, ter em consideração a flexibilidade oferecida, a previsibilidade e o nível de risco. O Leasing é o produto por excelência de apoio ao investimento e inclusivo, na medida em que se centra no ativo financiado, permitindo acesso a todas as empresas, mesmo as de menor dimensão ou com menor capacidade de apresentar garantias.
Em muitos cenários, o Leasing revela-se a escolha mais racional e alinhada com as necessidades atuais e futuras de mobilidade e outros investimentos, sendo que as Instituições associadas da ALF trabalham ativamente para suportar as empresas e famílias portuguesas, bem como os desafios de crescimento e progresso da economia nacional.
