: 19 de Dezembro, 2025 Redação:: Comentários: 0

No ano em que celebra século e meio de existência, a Companhia União de Crédito Popular mantém-se como porto seguro para milhares de portugueses. À frente desta instituição centenária está Maria Luísa Borges, cuja vida de trabalho, aprendizagem e compromisso personifica os valores que sustentam a longevidade da CUCP — “Não há sucesso sem esforço. Trabalhar com zelo e lealdade para quem nos paga é a solução”. Nesta entrevista, revisitamos a história da empresa, a sua transformação recente e o percurso pessoal de uma líder que alia rigor e humanidade.

Uma trajetória construída a partir do esforço e da formação contínua

A história profissional de Maria Luísa Borges começa muito antes da sua entrada na CUCP. Proveniente de uma família modesta do Porto, iniciou os seus estudos na escola Filipa d e Vilhena, onde concluiu o curso comercial. O destino encaminhou-a de forma inesperada para o mundo laboral quando lhe arranjaram o primeiro emprego na Utilometal, na Rua da Restauração. Foi ali que passou pelo arquivo, pelo PBX e pelo apoio à contabilidade, aprendendo não apenas funções técnicas, mas um conjunto de valores que levaria para a vida. Recorda com gratidão a frase dura, mas que muito lhe ensinou, que ouviu do patrão de então, Joaquim da Silva Torres: “Vocês vêm das escolas, mas quem vos tira o ‘lixo das unhas’ somos nós”. Esta frase ficou gravada como um lembrete permanente de que a experiência prática é, muitas vezes, a verdadeira escola da vida. Após cerca de um ano, mudou-se para a Jomar, onde permaneceu 36 anos e onde começou verdadeiramente a sedimentar o seu percurso profissional. Começou na secção de pessoal, passou por programadora do sistema IBM, foi analista e assumiu, mais tarde, a responsabilidade pelos Sistemas de Informação. Simultaneamente, abraçou o desafio de ingressar na Faculdade de Economia do Porto, onde se licenciou, conciliando horários exigentes de trabalho com o rigor da vida académica. A entrada na CUCP deu-se em 2002, a convite de um administrador que reconheceu o seu profissionalismo e visão organizada. Em 2018, tornou-se Presidente do Conselho de Administração, cargo que ocupa com orgulho e sentido de missão.

Liderar uma instituição com 150 anos de história

Assumir a presidência de uma empresa com a dimensão histórica da CUCP implica um profundo sentido de responsabilidade. A instituição foi fundada a 17 de abril de 1875, inicialmente sob o nome CUPP – Companhia União Popular Penhorista – e resultou da visão de vários burgueses portuenses que sentiram necessidade de apoiar o desenvolvimento da indústria e do comércio da cidade Invicta. Com o passar das décadas, passou por reorganizações estatutárias, transformações legais e até momentos turbulentos, como a fraude financeira da década de 30 que abalou profundamente os acionistas e depositantes. Este episódio, porém, marcou o início de uma nova era, quando Porfírio Fernandes Barbosa e Aurélio d’Araújo assumiram o controlo da empresa, imprimindo-lhe estabilidade e resiliência. Ao longo dos anos, outras figuras como António Ribeiro Barbosa e Manuel Aleixo Ferreira foram essenciais na construção da identidade da CUCP. Manuel Aleixo viria, mais tarde, a recrutar para a empresa os seus sobrinhos, Maria Luísa Borges e Bruno Gonçalves, garantindo que os valores de exigência e rigor se mantivessem dentro da instituição.

Maria Luísa fala com especial carinho do contributo destas personalidades que foram determinantes para a CUCP se tornar o que é hoje. “Muito do nosso saber é fruto da ligação forte ao meu tio, que foi um Homem de visão nesta indústria, e, do qual nos orgulhamos muito. Por isso mesmo, não há segredo para esta longevidade. Há muito carinho pela empresa e muita dedicação”, afirma, sublinhando a importância das relações humanas e da continuidade familiar na história da instituição.

A força de um modelo centenário adaptado aos tempos modernos

Uma das grandes características da CUCP é a sua capacidade de preservação do modelo tradicional do penhor, ao mesmo tempo que incorpora ferramentas e métodos contemporâneos. A empresa opera exclusivamente com bens móveis livremente transacionáveis, como ouro, joias, pratas de adorno e relógios em ouro, cumprindo rigorosamente a legislação do setor prestamista. Apesar de ter capacidade técnica para emprestar sobre outros tipos de bens, como imóveis ou viaturas, a lei não o permite.

A rede atual da CUCP é composta por quinze casas de penhores, de norte a sul, incluindo Fafe, Braga, Porto, Maia, Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Leiria, Alcobaça, Amadora e Cruz de Pau. Existem ainda duas ourivesarias de ouro usado que complementam a atividade prestamista e que permitem ao cliente aceder a peças de qualidade com certificação e avaliação rigorosa. Segundo Maria Luísa, a missão da empresa continua a ser a mesma desde os seus primórdios: servir quem procura apoio financeiro de forma objetiva, clara e imediata. “Nós existimos para servir quem nos procura”, afirma. Para ela, não há segredo nem fórmula mágica para explicar a longevidade da CUCP. O que há é trabalho, rigor, seriedade e respeito absoluto pela palavra dada.

Digitalização: uma etapa inevitável no crescimento da CUCP

Nos últimos anos, a empresa avançou para o universo digital, criando uma ourivesaria online que rapidamente se tornou um canal importante para atingir novos públicos e responder às novas formas de consumo. A presidente reconhece que o mundo mudou e que a digitalização é um caminho sem retorno. “Sem sombra de dúvida que o caminho é por aqui. Tudo acontece em segundos, sem sair do lugar. Abrimos o telemóvel, pesquisamos o que queremos, verificamos se o fornecedor nos inspira confiança e fazemos negócio. Tão simples quanto isso”, afirma. Apesar disso, sublinha que a vertente digital não substitui o atendimento tradicional, que continua a ser fundamental e muito valorizado pelos clientes. A CUCP aposta numa convivência harmoniosa entre os dois mundos: o da proximidade humana e o da eficiência tecnológica.

Equilíbrio entre vida pessoal e profissional: um desafio constante

Maria Luísa Borges aborda as dificuldades de conciliar a vida familiar com a carreira. Recorda episódios que ficaram gravados na memória, como o dia em que a filha ficou no colégio até às 21h porque tanto ela como o marido acreditaram que seria o outro a ir buscá-la. Com um sorriso, conclui: “Vida!” Reconhece que, com horários intensos, a vida pessoal fica inevitavelmente prejudicada e que a presença de apoio em casa é, muitas vezes, indispensável para conseguir acompanhar a família e manter equilíbrio emocional. Transmite também uma mensagem clara às jovens mulheres que estão a entrar no mercado de trabalho: a importância de escolher um emprego que ofereça felicidade e realização. “Pensem bem no emprego que vos faz feliz”, aconselha. E acrescenta que é essencial confiar na entidade empregadora, pedir ajuda quando necessário e ser capaz de perceber quando é tempo de mudar.

Desconstruir estigmas: o penhor como ferramenta legítima e segura

Durante muitos anos, o penhor foi injustamente associado ao desprestígio ou a dificuldades extremas. Para a presidente da CUCP, essa visão está profundamente ultrapassada e não corresponde à realidade. “A clientela do prestamista é a que na realidade tem bens”, afirma. Hoje, o penhor é utilizado por pessoas que procuram soluções rápidas e discretas para situações de emergência, investimento ou simples comodidade. A CUCP, além de disponibilizar liquidez imediata, oferece segurança na guarda de bens de valor. Maria Luísa explica que, em situações como obras em casa, viagens ou períodos prolongados de ausência, muitos clientes optam por empenhar peças para evitar o risco de perda ou furto. “Ao empenhar tem a garantia de que os bens estão seguros, pagando juros mais baratos do que os da utilização do cartão de crédito”, explica. A presidente lamenta a falta de conhecimento sobre as vantagens do penhor, sobretudo quando muitas pessoas acabam por vender bens que poderiam, na verdade, recuperar no futuro. “Infelizmente, muitas pessoas desconhecem a possibilidade de continuar a ter os seus bens para suprir necessidades futuras e desfazem-se deles porque estão com uma necessidade qualquer”, refere. Reforça ainda que, na maioria dos casos, penhorar pode ser uma forma de investimento, não uma perda.

Um setor escrutinado, mas transparente

A atividade prestamista é uma das mais fiscalizadas do país. A CUCP é supervisionada por várias entidades, incluindo a Direção-Geral das Atividades Económicas, a Imprensa Nacional Casa da Moeda, a ASAE e a Polícia Judiciária. Para a presidente, este nível de escrutínio é não apenas legítimo, mas fundamental para garantir confiança e credibilidade. “A credibilidade do setor passa, como em tudo, pela transparência e verdade”, afirma. É por isso que a empresa insiste em explicar, de forma rigorosa e clara, todas as condições associadas ao penhor, às taxas aplicadas e ao direito de recuperação dos bens. Cada cliente é atendido com discrição e profissionalismo, preservando o seu anonimato e respeitando a sua dignidade.

O futuro: modernização contínua e lealdade aos valores fundadores

A meta de Maria Luísa Borges é deixar a CUCP ainda mais forte, moderna e reconhecida como líder no setor. Sonha com uma empresa equilibrada entre tradição e inovação, capaz de transmitir às próximas gerações a importância do trabalho conjunto. “Não somos nada sem quem nos rodeia”, afirma, destacando que, independentemente do talento individual, nenhuma ideia se concretiza sem equipas competentes e empenhadas. O futuro da CUCP será, segundo a presidente, construído com a mesma base de sempre: confiança, proximidade, rigor e dedicação. Uma casa centenária que continua a reinventar-se sem perder o essencial. Uma empresa que cresce porque respeita o valor de cada cliente, o valor de cada bem e o valor da palavra dada. E no final, quando procura resumir quase 150 anos de história, Maria Luísa não hesita e chega à frase que, para ela, simboliza essa permanência: “O ouro é sempre ouro”.