: 24 de Outubro, 2025 Redação:: Comentários: 0

A Mais Magazine falou com Patrícia Pedrosa, fundadora do projeto W@ARCH.PT e co-fundadora e presidente da Associação Mulheres na Arquitetura, sobre o papel das jovens arquitetas na defesa dos seus direitos e na valorização social da profissão.

O que a motivou a criar o W@ARCH.pt e como o projeto ajudou a dar visibilidade às mulheres na arquitetura?

Sendo arquiteta e tendo estudado e investigado no contexto da história da arquitetura, causava-me alguma estranheza a ausência de mulheres — pensava que talvez não soubéssemos delas porque não existiam. Mais tarde, quando comecei a perceber que, de facto, existiam, interroguei-me sobre qual o processo que faz com que não sejam consideradas importantes e que a história da arquitetura portuguesa seja, essencialmente, um relato sobre algumas participações.

Foi neste contexto que, anos mais tarde, iniciei o meu primeiro projeto de investigação. Deparei-me então com a realidade de que ainda estava praticamente tudo por fazer, sendo muito difícil até escrever pequenos textos sobre o contexto português e as mulheres arquitetas. Ou seja, era necessário desenvolver um projeto de investigação que, com recursos e tempo, permitisse realizar um levantamento mais sistemático e exaustivo sobre quem eram estas mulheres.

Após uma primeira tentativa falhada de obtenção de financiamento, conseguimos aprovar a segunda candidatura — e assim nasceu o W@ARCH.pt, com o objetivo de identificar, dar visibilidade e ouvir as histórias das mulheres arquitetas em Portugal até à entrada do país na União Europeia.

Que desafios enfrentou ao criar a Associação Mulheres na Arquitetura e que impacto teve no debate sobre igualdade de género?

A Associação Mulheres na Arquitetura nasce em 2017 e resulta das inquietações a que já me referi anteriormente. Nós, fundadoras — enquanto arquitetas, profissionais liberais e docentes universitárias nos cursos de arquitetura — fomo-nos apercebendo de que essas questões estavam presentes no nosso quotidiano. Ao mesmo tempo, começámos a estranhar o facto de não vermos mulheres representadas em prémios, júris, exposições, conferências, entre outros contextos. Creio que a situação tem vindo a melhorar, mas esse era o panorama há cerca de dez anos.

Além disso, temos assistido a um aumento do número de jovens mulheres a ingressar nos cursos de arquitetura. Há, portanto, uma feminização evidente da profissão. Mas como é que estas mulheres se constroem enquanto arquitetas se não encontram referências femininas nas bibliografias, nos exemplos apresentados ou nas figuras de destaque a que assistem?

Segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores em Arquitetura, as mulheres ainda ganham, em média, cerca de 12% menos do que os homens a desempenhar as mesmas funções. É também de conhecimento geral a existência de situações em que mulheres a recibos verdes são despedidas quando engravidam. Importa ainda alertar para os casos de assédio sexual na profissão — uma realidade com a qual a Ordem dos Arquitetos e nós, enquanto classe profissional, ainda não nos confrontámos de forma estruturada, mas que existe e tem como alvos preferenciais as jovens arquitetas e estagiárias de arquitetura.

Portanto, é desta encruzilhada de preocupações e da consciência de que era necessário lutar em várias frentes que surge a Associação Mulheres na Arquitetura.

Que mensagem deixaria às jovens arquitetas que querem afirmar-se e promover maior representatividade na profissão?

Diria para se organizarem e lutarem, porque, aparentemente, está fora de moda a ideia de organização coletiva e de exigência de direitos — e a igualdade é um direito constitucional.

Acredito que as jovens arquitetas podem trazer uma mudança muito significativa, porque em breve serão a maioria na profissão. Ao lutarem pelos seus direitos, estarão também a melhorar a própria prática profissional, promovendo a diversidade, o respeito, a igualdade e a multiplicidade de vozes na arquitetura.