
Graciano Paulo assumiu a presidência da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra (ESTeSC) em 2021, com o propósito de retribuir à instituição tudo o que esta lhe proporcionou enquanto estudante. Em entrevista à Mais Magazine, fala sobre os principais desafios que enfrentou ao longo do mandato e traça a sua visão para o futuro.
Chegou a Coimbra em 1985 para frequentar o curso de Radiologia — atualmente Imagem Médica e Radioterapia. Mais tarde, concluiu um mestrado em Gestão e Economia da Saúde e um doutoramento em Ciências da Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O seu percurso esteve sempre ligado à valorização do ensino e das profissões na área da saúde, tendo desempenhado funções como presidente da Associação Portuguesa de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear. Apesar de uma carreira diversificada, admite que o mais marcante foi o tempo que passou no Hospital dos Covões. “Era um hospital com identidade própria, quase familiar, e foi ali que cresci profissional e pessoalmente.”
A candidatura a presidente da ESTeSC surgiu de forma natural, após ter sido vice-presidente da instituição. “Sempre senti que um dia teria de retribuir a esta escola tudo o que ela me deu enquanto aluno. Por isso, ser presidente desta instituição é um enorme privilégio”, afirma. Prestes a concluir o seu primeiro mandato, faz um balanço positivo, embora assuma que enfrentou alguns obstáculos. Entre eles, destaca a complexidade da legislação portuguesa; o subfinanciamento crónico das instituições públicas; a insuficiência de espaço físico; e a crescente dificuldade na gestão de pessoas, agravada pelas mudanças nos padrões de relacionamento após a pandemia.

Em março deste ano, a ESTeSC celebrou 45 anos de existência. A escola nasceu em 1980, como Escola Técnica dos Serviços de Saúde de Coimbra, e passou para o edifício atual em 1991. Desde então, consolidou-se como uma referência nacional no ensino das tecnologias da saúde. “Todas as grandes transformações que aconteceram nesta área — seja no ensino, na investigação ou nas profissões — passaram por Coimbra”, explica.
Atualmente, a ESTeSC oferece oito licenciaturas: Audiologia, Ciências Biomédicas Laboratoriais, Farmácia, Fisiologia Clínica, Fisioterapia, Imagem Médica e Radioterapia, Dietética e Nutrição, e Saúde Ambiental. Está ainda submetida à acreditação uma nova licenciatura em Terapia Ocupacional, com planos para a criação de um polo da escola no Hospital Rovisco Pais, na Tocha. “Temos um memorando assinado com a Câmara Municipal e com a ULS Coimbra. A ideia é instalar, dentro do campus do hospital, uma nova unidade dedicada à área das terapias”, adianta. Além das licenciaturas, a escola oferece diversos mestrados e pós-graduações. Nos últimos anos, tem sido uma das unidades do Politécnico de Coimbra com maior crescimento na oferta formativa, aproveitando os programas do PRR – Impulso Jovem e Impulso Adulto. Foi ainda submetido, em parceria com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, o primeiro doutoramento em Tecnologias da Saúde, aguardando aprovação.
Questionado sobre os elementos diferenciadores da ESTeSC, Graciano Paulo aponta a cultura institucional: “Temos uma cultura de exigência, responsabilidade e proximidade. Criou-se aqui um verdadeiro espírito de família – aquilo a que chamo de família #madeinestesc”. A localização da escola na cidade de Coimbra e a forte ligação aos hospitais e instituições de saúde da região, são também fatores-chave para o sucesso da formação oferecida.
Com os olhos postos no futuro, o presidente pretende concretizar várias metas até ao final do ano: adjudicar as obras de requalificação energética dos edifícios, concluir a modernização dos serviços administrativos e garantir a aprovação das novas ofertas formativas. Graciano Paulo confirma ainda a intenção de se recandidatar: “Devo isso à escola. Sinto que é minha obrigação continuar a retribuir tudo o que ela me deu.”
Entre as prioridades para um novo mandato estão a renovação do corpo docente e não docente, a consolidação do novo polo na Tocha e o reforço da investigação aplicada. “A nossa missão será antecipar o impacto que a inteligência artificial trará para a saúde e o ensino, e adaptar-nos a essas novas realidades.” Independentemente dos desafios, Graciano Paulo mantém o foco nas pessoas. “Acredito que só é possível ter uma escola saudável se quem aqui estuda e trabalha se sentir bem.
