O Dia de Sant Jordi é uma data emblemática da cultura catalã. Coincide com o Dia Mundial do Livro, a 23 de abril, e é uma tradição muito enraizada na sociedade. Nesse dia, os casais trocam rosas e livros, sendo, por isso, considerado por muitos o “Dia dos Namorados”. As ruas e praças das localidades da Catalunha enchem-se de bancas com rosas e livros. Só nesse dia vendem-se mais de 1,5 milhões de livros e mais de 6 milhões de rosas.
Reza a Lenda de Sant Jordi que um dragão invadiu a vila catalã de Montblanc, assustando toda a população, que ofereceu borregos à fera aterradora para acalmar a sua fome. Quando este ficou sem mais nada para comer, o rei sorteou uma pessoa da vila para matar a fome do dragão. O azar fez com que a pessoa escolhida fosse a sua filha, a princesa. Contudo, o cavaleiro Sant Jordi, santo padroeiro da Catalunha, cravou a sua lança em cheio no coração do dragão para defender a princesa da morte. Diz a lenda que do sangue derramado do coração do dragão nasceu uma roseira de rosas vermelhas. Sant Jordi colheu a mais bonita e ofereceu-a à princesa. A Delegação do Governo da Catalunha em Portugal organiza todos os anos um ato para comemorar esta data do calendário cultural catalão. Em 2022, organizou uma conversa sobre José Saramago com a participação do escritor Miguel Real e do jornalista Francesc Escribano, com a moderação da jornalista e crítica literária Isabel Lucas. O evento foi organizado conjuntamente com as Bibliotecas de Lisboa, as Bibliotecas de Barcelona, a cátedra do escritor na Universitat Autònoma de Barcelona e a Fundação José Saramago. A atividade fez parte da programação oficial do centenário do Prémio Nobel de Literatura português. Em 2021, mesmo com as restrições pandémicas, a Delegação ofereceu, nas suas redes sociais, um percurso de poesia por Lisboa com uma série de vídeos, dois deles com a intervenção especial do músico, cantor e compositor Salvador Sobral.
As torres humanas catalãs em Portugal
As famosas torres humanas da Catalunha chegam a Portugal no âmbito da celebração do Dia de Sant Jordi organizado pela Delegação do Governo da Catalunha em Portugal. Os Castellers de Vilafranca, campeões do último concurso desta tradição indispensável da identidade cultural catalã, atuarão em Lisboa, Évora e Elvas de 21 a 23 de abril.
Sexta-feira, 21 de abril – Lisboa
15.30h Praça do Município
Sábado, 22 de abril – Alentejo
11.00h Elvas
16.00h Évora
Domingo, 23 de abril – Lisboa
10.00h Castelo de São Jorge
15.00h Padrão dos Descobrimentos
Os Castells, património da UNESCO
Trabalho em equipa, esforço e espírito de superação. São estes os valores que encarnam os Castells, uma tradição cultural com mais de 200 anos de história e declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2010.Os dados mais antigos sobre estas torres humanas datam do século XVIII: as torres compostas por duas ou três pessoas eram o culminar da Dança dos Valencianos, típica das principais festas das regiões de Tarragona. Quando essas construções se tornaram independentes do resto da dança, os Castells nasceram como uma exibição cultural com caráter próprio. A época de ouro das torres humanas decorre desde os anos 90 até aos dias de hoje. Para isso contribuíram a criação de novos grupos com um perfil intergeracional e multicultural, a realização de novas e espetaculares construções e o mediatismo das exibições dos Castells, com transmissões na televisão. Atualmente existem cerca de 100 grupos e mais de 12.000 castellers, ultrapassando a construção de mais de 16.000 torres humanas por ano.
Os castellers de Vilafranca, o melhor grupo da Catalunha
Os Castellers de Vilafranca são a principal instituição cultural e desportiva catalã de construção de torres humanas. Venceram o 28º Concurso de Castells organizado a 2 de outubro de 2022 e estão regularmente classificados em 1º lugar no campeonato de torres humanas. A 1 de novembro de 2022 bateram o recorde com uma construção inédita, nunca vista em toda a história dos Castells: uma torre de até nove níveis. O grupo foi fundado em 1948 e fazem parte dele mais de mil membros que se juntam em torno dos valores do grupo: a democracia, a cooperação, o trabalho em equipa e o espírito de superação. Em 1993 foram condecorados com a Cruz de Sant Jordi, o maior reconhecimento concedido pelo Governo da Catalunha. Há mais de 40 anos, em outubro de 1982, os Castellers de Vilafranca atuaram no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. É uma das cerca de 200 atuações internacionais que fizeram ao longo da sua história em cidades europeias como Paris e Berlim e de outros continentes como Nova Iorque e Xangai.
Entrevista a Rui Reis, delegado do Governo da Catalunha em Portugal
Rui Reis (Maputo, Moçambique) é licenciado em Engenharia Zootécnica pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Fez assistências técnicas no âmbito da formação profissional ao Ministério da Educação do Governo de Moçambique e possui uma vasta experiência em cooperação institucional e para o desenvolvimento ligada à Agência Catalã de Cooperação ao Desenvolvimento (ACCD). Entre outros, exerceu o cargo de representante da ACCD em Moçambique (2006–2014), de responsável da Unidade de Países na sede da agência, em Barcelona (2015–2017) e foi representante da ACCD em toda a área da África Oriental (2017–2019). Também entre 2017 e 2019, foi vice-presidente do Grupo de Coordenação de Género entre o Ministério do Género, Criança e Ação Social do Governo de Moçambique e as organizações ativas no âmbito da cooperação no país. Em abril de 2019, foi nomeado Delegado do Governo da Catalunha em Portugal.
Porquê as torres humanas em Portugal?
Os Castellers são uma grande expressão do folclore catalão. Aliás, é o maior tesouro que os catalães possuem no âmbito da cultura popular. É por isso que foi declarado Património Imaterial da Humanidade em 2010.
As atuações serão em espaços importantes e simbólicos do nosso país, como em Lisboa.
Exatamente. É uma honra podermos mostrar o que a cultura catalã tem de mais precioso em espaços com uma grande carga simbólica e representativa na capital portuguesa, como a Praça do Município, o Castelo de São Jorge e o Padrão dos Descobrimentos.
Mas não vão ficar pela capital, também chegarão ao Alentejo.
Com toda a certeza. O sábado será dedicado a esta região portuguesa tão rica culturalmente com atuações em duas cidades que são ambas Património da Humanidade: Évora e Elvas. Será uma grande oportunidade para a população alentejana admirar esta importante expressão da cultura popular da Catalunha.
Já não é a primeira vez que o folclore catalão vai ser promovido no Alentejo.
Certo. No ano passado tivemos um grande encontro de cultura popular em Elvas, mas os castellers não conseguiram vir pelos compromissos com as festas das cidades catalãs na altura. Ficámos, de certa forma, em dívida com a cidade. Por isso também vamos ter uma atuação em Elvas. Bom, por isso, e obviamente pelo que representa atuar num palco que, tal como Évora, é Património da UNESCO. É sempre uma grande honra.
O Sant Jordi é um dia muito importante ao nível cultural na Catalunha.
O Dia de Sant Jordi é o dia da cultura catalã por excelência. É um dia muito bonito onde as pessoas enchem ruas e praças das cidades e vilas com bancas de rosas e livros, respeitando assim a tradição de troca de rosas e livros. Enquanto representação institucional da Catalunha em Portugal, fazemos chegar todos os anos um pouco desse ambiente aos catalães que vivem cá, mas também aos portugueses para conhecerem esta bela tradição.
Isto é, organizam todos os anos um evento para comemorarem tão importante data.
É isso mesmo! E nunca falta a tradição das rosas e os livros, claro. No ano passado juntámos várias instituições na organização de um evento em homenagem a José Saramago na Biblioteca Palácio Galveias, que foi inserido na programação oficial do centenário do Nobel de Literatura português. Em 2021, mesmo com as restrições pandémicas, oferecemos um percurso de poesia por Lisboa nas nossas redes sociais com vários vídeos onde tivemos a honra de contar com a intervenção especial do músico, cantor e compositor Salvador Sobral.
Um dos focos do trabalho da Delegação do Governo da Catalunha em Portugal é o âmbito cultural.
A Delegação tem realizado um trabalho de promoção cultural da Catalunha. As relações entre Portugal e a Catalunha representam um espaço de grande potencial de desenvolvimento e de descoberta recíproca. Todos temos a noção de que o presente e o futuro de uma identidade dependem do seu reconhecimento internacional já que uma cultura não existe se não é conhecida e reconhecida pelas outras nações. Este é um dos nossos grandes desafios. Neste sentido, organizámos o lançamento da antologia Resistir ao Tempo que, pela primeira vez, integra poetas catalães de todas as gerações até à atualidade. Também no campo da literatura catalã, exibimos uma exposição na Biblioteca Camões e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No âmbito da promoção da memória histórica, temos organizado também várias atividades. Precisamente nesta semana, realizámos um seminário sobre os media e as transições democráticas na Catalunha e em Portugal.
E nos restantes âmbitos, existe também um trabalho por parte da Delegação?
Portugal e a Catalunha precisam, inevitavelmente, de uma ponte ao nível institucional, empresarial, cultural e social que os ligue no presente e no futuro, tal como já aconteceu no passado. A Delegação constrói e reforça estas pontes já existentes nos diversos âmbitos. No campo económico, Portugal é o quarto país para onde a Catalunha mais exporta, só superado por França, Alemanha e Itália. Mas não apenas. É também o país que tem mais filiais de empresas catalãs no mundo, à frente de grandes potências comerciais como os Estados Unidos e outros parceiros europeus. Estes números tornam Portugal um sócio comercial essencial para a economia da Catalunha e vice-versa.