: Mais Magazine:: Comentários: 0

Fundado em 2003 e situado no histórico Bairro Alto, o restaurante Lisboa à Noite destaca-se pela dedicação à Cozinha Tradicional Portuguesa e pela capacidade de proporcionar experiências gastronómicas memoráveis. Instalado num edifício centenário, o restaurante mantém um compromisso inabalável com a qualidade e a hospitalidade, atraindo clientes dos quatro cantos do mundo.

Como e quando surge este projeto? E porquê o Bairro Alto?

O projeto Lisboa à Noite surge em 2003. O nosso primeiro investimento no Bairro Alto aconteceu em 1986, com a abertura do restaurante Sinal Vermelho, que ao longo dos seus 38 anos se tornou numa referência da cidade. Conhecíamos muito bem a área e tínhamos uma ideia muito sólida sobre a evolução de crescimento que se perspetivava para o turismo, alicerçada na adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia.

O que motivou a escolha do nome “Lisboa à noite” para o espaço? Está, de alguma forma, relacionado com o conceito do restaurante?

O Lisboa à Noite era uma Casa de Fados inaugurada nos anos 60, pertencente à conhecida fadista Fernanda Maria. Face ao nosso objetivo de segmentar o espaço para o target médio-alto, com a possibilidade de apenas servir jantares pela noite dentro, a denominação já existente não podia ser mais feliz.

Lisboa é hoje uma marca forte e a noite do Bairro Alto também é sobejamente reconhecida além-fronteiras.

Estando o Lisboa à Noite inserido num edifício centenário e cheio de história, conte-nos um pouco sobre isso.

O espaço divide-se em três salas, fisicamente autónomas, mas conectadas entre si. Uma delas foi a antiga cavalariça que pertenceu no passado aos Condes do Bairro Alto. A testemunhar isso mesmo, ainda se podem ver as argolas chumbadas nos arcos pombalinos e um poço de água que funciona como o nosso ex-libris. Conta-se – não sabemos se verdade ou apenas uma lenda – que neste palacete havia uma passagem secreta por um túnel, (a partir destas cavalariças) até ao Teatro de S. Carlos, por onde acedia a família Real e os seus amigos. Regressavam do mesmo modo, escapulindo assim do Teatro sem nunca serem vistos.

Relativamente à ementa, tem um conceito diferenciador de cozinha? Quais são os pratos que destaca?

O Lisboa à Noite pugna, apenas e só, pela dignificação da riquíssima Cozinha Tradicional Portuguesa. Estando situados num Bairro com mais de meio século de história, no nosso entendimento, nem poderia ser de outra forma. Confecionar cada prato no momento, de forma rigorosa e cuidada, personalizando cada iguaria para cada cliente, é para nós condição inegociável.

Temos clientes que nos visitam dos quatro cantos do mundo, mostrando guias de referência dos seus países onde estamos presentes sem um único cêntimo investido, e isso dá-nos alento e orgulho suplementar no trabalho desenvolvido, principalmente na nossa gastronomia. Procuramos aliar a matéria prima de excelência à confeção elaborada por Chefs experientes, sem descurar uma apresentação cuidada, complementada por um serviço de eleição. A conjugação destes três fatores é o segredo do nosso sucesso, que já conta com 21 anos.

O peixe fresco que chega diariamente de Setúbal e Cascais, o marisco vivo que se pavoneia alegremente no nosso aquário – talvez o único existente no Bairro Alto, e, sem sombra de dúvida, o cenário mais fotografado no restaurante.

Pratos como: Robalo em Crosta de Sal; Caril do Mar; Cabrito à Moda da Serra D’Arga; Presa de Porco Alentejano com Tortilha de Linguiça; A Nossa Interpre-tação do Bacalhau à Brás; O Nosso Arroz Doce Quente com Alecrim e Baunilha de Madagáscar; A Nossa Interpretação do Pastel de Nata; A Nossa Tábua Portugal de Lés-a-lés, em formato mapa nacional, e onde pontuam o Abade de Priscos; Papos de Anjo; Ovos Moles; Pastéis de Tentúgal; Mini Pastéis de Nata; Sericaia com Ameixa D’Elvas; Queijo de Figo; tudo de produção própria. São ícones transformados em sucesso de vendas que não permitem a sua saída de cena.

E sobre a carta de bebidas, o que nos pode dizer?

O serviço de vinhos é um forte catalisador em qualquer restaurante. Claro que não somos exceção e até fazemos disso um cartão de visita. Sob a batuta do nosso Sommelier, a nossa carta de vinhos é extensa e diversificada, onde se podem encontrar néctares raros e exclusivos, que dormem tranquilamente numa adega situada na cave do restaurante, onde humidade e temperatura controladas lhes conferem uma ótima evolução e longevidade.

Conjuntamente com vários produtores de norte a sul do país, desenvolvemos o projeto “Mestre Saias”, cujo nome deriva do bisavô de um dos donos do restaurante, que era adegueiro de profissão. Trabalhou em diversas quintas e, apesar de autodidata, destacou-se entre os seus pares pela mestria que emprestou à arte de bem fazer vinho. É daí que vem o cognome de Mestre, como todos o designavam. Sobre o Saias, consta que vem do avental comprido que usava no trabalho. O seu nome verdadeiro ficou na certidão de nascimento e até nas memórias de família se perdeu.

Em função da gastronomia que produzimos, são desenhados vinhos cujo perfil de harmonização com muitos dos nossos pratos, resulta de forma absolutamente feliz. Essa particularidade é bastante diferenciadora e já granjeou muitos fãs do “Mestre Saias”.

Neste momento entre vinhos, espumantes e licorosos, já temos cerca de 20 referências e não pensamos parar por aqui. Não conhecemos outro caso semelhante em todo o país. É um projeto verdadeiramente inovador, focado na personalização do serviço com que queremos presentear o nosso cliente.

Há muitos espaços com o vinho da casa personalizado ou até com o seu logótipo estampado no rótulo. Mas a marca “Mestre Saias” é muito mais do que isso: nasceu da vontade de suprir uma homenagem afetiva, enquadrada num desejo ambicioso de elevação e personalização de serviço. Para nós o cliente não é um número, e temos muito apreço e consideração por quem nos mantém em alta ao longo destes 44 anos dedicados à hotelaria e hospitalidade. Queremos que cada um experiencie a portugalidade na sua máxima expressão qualitativa.

A exclusividade é tão grande que o cliente não encontra estas referências em mais nenhum lugar no nosso país: apenas nos restaurantes Lisboa à Noite e Sinal Vermelho, ambos situados no Bairro Alto, em Lisboa.

Cada vez com mais frequência recebemos pedidos vindos das mais diversas latitudes, para enviarmos esta ou aquela referência de que um cliente tanto gostou. Outros há que querem levar uma garrafa como recordação de um espaço que lhes fica na memória. E isso deixa-nos extremamente orgulhosos.

Podemos afirmar que tudo é confecionado por vocês, desde os pratos principais às sobremesas?

Claro que sim! Isso é condição absoluta para nos diferenciarmos. Estamos inseridos numa área geográfica onde existe uma enorme profusão de restaurantes. Se os outros fazem “bolinhas”, nós temos minutos para comer. A nossa sugestão é sempre a mesma: façam, se possível, uma refeição ligeira em qualquer tasca da zona e reservem o Lisboa à Noite para uma noite em que possam realmente desfrutar do nosso espaço e da nossa cozinha.

Principalmente na última década, o Bairro Alto mudou bastante. Mas o Lisboa à Noite manteve-se fiel aos seus princípios e tem uma clientela adepta e apaixonada. É por ser um dos amores do Bairro?

É do senso comum que os amores são efémeros, se não forem continuadamente cuidados e alimentados, esvaziam-se em si mesmos. Nenhum dos sócios fundadores nasceu em Lisboa, mas ambos assentaram arraiais no Bairro Alto há mais de 40 anos. O nosso compromisso para com este bairro baseia-se na sã convivência entre comerciantes e moradores. Se o nosso objetivo fosse apenas o lucro por si só, já há muito teríamos enveredado pelas denominadas “repúblicas da cerveja” que pululam por aí, onde empresários de estratégia duvidosa vendem indiscriminadamente cerveja e shots a jovens que ainda não têm idade legal para os consumir. A nossa responsabilidade social passa por investimentos que aportem valor à cidade e sobretudo à comunidade local, criando emprego e fomentando uma frequência baseada em critérios de qualidade. Cerca de 65% dos nossos mais de quarenta colaboradores, vivem na área. Tem sido um trabalho árduo – e por vezes algo frustrante – mas a nossa persistência não tem limites, sendo esse o único legado pelo qual queremos ser realmente reconhecidos.

Recebem grupos ou outro tipo de eventos?

O facto de termos salas fisicamente separadas permite-nos receber alguns eventos de forma bastante seletiva, sem prejudicar o ambiente da clientela individual. Embora não seja esse o nosso principal segmento de negócio, estamos sempre disponíveis para apresentar orçamentos com menus devidamente estruturados e de qualidade.

Como descreveria a sua equipa de colaboradores, uma vez que são o cartão de visita do seu negócio?

Os nossos clientes são recebidos e tratados como nossos convidados, por uma equipa de colaboradores bem treinados e com enorme competência técnica. A seleção de recursos humanos é muito rigorosa, tendo em conta a experiência que desejamos proporcionar a cada cliente. A hospitalidade é um dos fatores em que mais apostamos, com um enorme respeito pelo cliente que em nós deposita a responsabilidade de lhe tornar cada noite única, absolutamente memorável.

Um dos maiores problemas com que a restauração se depara é a escassez de mão-de-obra e a grande volatilidade dos recursos humanos. A motivação dos mesmos passa por criar bases sólidas de trabalho com objetivos muito bem definidos, procurando envolvê-los o mais possível na estratégia de crescimento e progressão. O melhor exemplo que podemos dar é o facto de o nosso diretor de restaurante trabalhar connosco desde que abrimos portas em abril de 2003; o nosso Sommelier há mais de dezasseis anos; o Chef e a Sub-Chef, há mais de uma dúzia de anos; pode parecer uma coisa de somenos, mas não é! A relação de confiança que se estabelece entre o cliente e uma equipa estável é de extrema importância para o sucesso deste tipo de negócio.

Quem são os vossos clientes habituais?

A nossa clientela é muito variada e eclética. Infelizmente a falta de estacionamento na zona, tem sido um fator dissuasor para os clientes nacionais que sentem cada vez mais constrangimento em chegar ao eixo Bairro Alto-Chiado, mas, apesar de tudo, vão comparecendo com uma regularidade assinalável. Por outro lado, a clientela internacional tem crescido de modo exponencial. O turismo profissional e de negócios também tem vindo a crescer, sendo um segmento muito interessante e ao qual estamos muito atentos.

Que projetos tem em mente para o futuro?

Um empreendedor tem sempre projetos a fervilhar na sua mente, uns mais exequíveis do que outros, é certo, mas o bichinho permanece numa saudável inquietação. A atual conjuntura internacional é muito periclitante, recomendando alguma prudência e muita ponderação, mas estamos sempre abertos a propostas aliciantes que possam surgir.

Estender a marca “Mestre Saias” a outras regiões é um dos nossos desígnios a curto prazo. Queremos caminhar no sentido de minimizar a nossa pegada ambiental, investindo na agilização de processos e equipamentos mais eficientes, reduzindo consumos desnecessários e emissões de CO2. Apostar nas novas tecnologias de forma a aumentar a produtividade, facilitando as tarefas diárias dos nossos colaboradores. Tudo isto faz parte da nossa agenda prioritária.